A expressão “acorda para a vida” não faz sentido nenhum para quem gosta de levar no bolso uma vida cheia de sonhos. Até compreendo que não só de sonhos se fazem as manhãs preguiçosas e as sestas batoteiras, mas parece-me que todas as noites mal dormidas se empanturram de sonhos por cumprir. E todos os que sonham, um dia também têm de acordar. Só que, primeiro, é preciso entregarmo-nos ao sono que nos leva aos sonhos. Não há mal nenhum em acordar na vida, em lançar um (...)
Uma folha em branco tem espaço para dois ou três mundos loucos como aquele em que vivemos. Ou mais. Mais mundos e mundos mais loucos. É por isso que, na lista de coisas que as pessoas mais gostam, em primeiro lugar deveriam constar as palavras. Gostamos de chocolate, de passeios ao pôr-do-sol, de longos dias de sol e de noites de inverno a ouvir a chuva lá fora. E gostamos sempre de música, até mesmo quando preferimos o silêncio. E esquecemo-nos sempre que também gostamos das (...)
Sentei-me na mesa do canto. Aquela em que mais ninguém se quer sentar porque a janela está estragada e, por isso, constantemente a abrir-se. As mães queixam-se das correntes de ar que constipam os filhos, mas os miúdos não querem saber e escapam-se-lhes num piscar de olhos lá para fora. O vidro estremece quando o grupo de crianças lhe acerta em cheio com uma bola. Cá dentro, as mesas abanam e as chávenas de café tilintam e os velhos nem se apercebem, porque a idade já lhes (...)
“O mundo é pequeno”. Mas o mundo é grande. Cabe num globo ao canto da secretária, na espessura de uma folha de papel colada na parede do quarto e num porta-chaves a escorregar do bolso das calças. Mas recusa-se a caber nas 24 horas de um dia, numa só viagem de avião e, muito menos, entre a roupa amarrotada de uma mala de mão. O mundo escapa-nos com facilidade, se um piscar de olhos não for rápido o suficiente ou se virarmos as costas ao despertador. Diz-se muita coisa sobre (...)
Quando o céu se decora com nuvens que qualquer algodão doce invejaria, gosto de as delinear com a ponta do dedo e acreditar que os sonhos têm aquela forma tão palpável e aconchegante e aquela proximidade tão assustadoramente real que, com um braço esticado e um salto de fazer sentir os pés, parece fácil de meter um pedaço de nuvem no bolso. Observar os sonhos tão perto faz-me pensar que nunca ninguém me disse que eles têm limites. Mas eu sei que o dizem. E, com isso, não (...)
Há quase três semanas que não escrevo no It's Carol. Mentiria se dissesse que esta ausência se deve à minha falta de tempo, mas a verdade é que me tenho entregado a outras ocupações, uma delas tem sido, pura e simplesmente, descansar. Mesmo sendo eu uma pessoa bastante organizada e que gosta de planear com detalhe as obrigações a que se compromete, por vezes sinto que parar é um passo fundamental para estar apto a prosseguir. Encaro-o como uma pausa para respirar. Neste (...)