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it's carol

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14.Ago.18

Significados de Algarve em agosto

Português que é português sabe que tem duas opções no verão: ou corre de férias para o Algarve ou foge das férias no Algarve. E, ainda que haja fugitivos, em agosto o sul do país transforma-se. Se Portugal se equilibrasse consoante a distribuição da população ao longo do país, haveria certamente um desequilibro e acabaríamos todos com os pezinhos nas praias algarvias, o que, vendo bem, já acontece. Aconteceu-me. É por isso que aqui estou.

Segundo a wikipédia [essa fonte de sabedoria], "o Algarve é uma região, sub-região e província tradicional de Portugal continental, sendo a mais meridional entre todas" e "constitui a região turística mais importante de Portugal e uma das mais importantes da Europa". Estas palavras podem não andar muito longe da verdade, mas, vão-me desculpar os que se sentirem ofendidos, em agosto o Algarve tem outros significados intrínsecos.

Ora vejam só: O Algarve é uma região que, em pleno mês de agosto, é propícia a receber uma quantidade considerável da população portuguesa, e não só, que se mostra disposta a...

 

Apanhar escaldõezitos a torto e a direito porque o sol é quase tão forte ao final da tarde como ao meio dia. E esperem só por ver o corpinho vermelho de um inglês [que torra entre as 11h30 e as 15h] e até se assustam. Não há protetor solar que exerça bem a sua função nestas condições. Até o dedo mindinho do pé [esse dedo quase inexistente] é capaz de ficar queimadito. Que importância tem isso, férias são férias, não é?

Lidar com o facto de passar a pertencer a outras famílias e grupos de amigos devido à proximidade que é proporcionada nas praias. É uma questão social. Cabe-nos saber conviver com isso, sorrir e fingir que a duna que mandaram para cima da nossa toalha não nos incomodou nem um bocadinho. No entretanto, a probabilidade de haver um bebé a chorar e uma família com o nível de stress no máximo é elevada. Somos obrigados a ir à água [que está a temperaturas para lá das recomendadas para qualquer ser à face da terra] só para não nos sentirmos tão constrangidos. Mas que mal tem, não é? Estamos só a aproveitar as férias.

Gastar todas as poupanças que juntamos durante o resto do ano. E com isto não falo só em números, mas também em energia. As férias não são só descanso. Elas fazem-nos perceber como estamos cansados [super exaustos mesmo!]. Dá uma moleza depois da praia. Dá uma preguiça depois [e antes] de não se fazer pevide. E até os trocos acabam por ser gastos em coisas que mais tarde não nos lembramos. Que importa isso? Regressamos a casa. Falidos. Porém, felizes. Não é isso que mais importa nas férias?

Acolher outras nacionalidades [e tudo o que isso engloba]. Descobrimos mais tarde que certos locais do Algarve já são mais de Inglaterra do que de Portugal. Temos de arranhar o inglês para comunicarmos [porque, obviamente, é a língua que falamos] e, quando percebem que falas português, é impossível não reparar o espanto com que ficam por encontrar um português em Portugal. Engraçado, não é? Nas férias há que ver o lado positivo das coisas: por metade do preço, vamos à terra de Sua Majestade sem sairmos do nosso próprio país.

Reecontrar todas as pessoas das quais fugimos. Porque somos seres racionais e fugimos todos para os mesmos lugares. E depois é aquele momento meio constrangedor meio divertido porque, apesar de nos encontramos todos os dias naquela que é a nossa "vida normal", estamos a encontrar-nos no nosso melhor "modo descanso", acabando por revelar a personagem desportiva que criámos apenas para a ocasião "férias". O mundo não cai por isso, pois não? Mesmo sabendo que eu nunca mais vá conseguir apagar a imagem mais desleixada daquela pessoa profissional, arranjadinha e bem penteada com que me cruzo todos os dias. As férias dão direito a isso, certo?

Vérias. Vérias com v, sim. Porque o nosso cérebro entra de tal maneira em modo repouso que metade da nossa inteligência também decide tirar uns dias. E, admitam, há sempre aquele receio meio escondido de regressarmos ao "dever" e, depois de uns tempos fora, nos termos esquecido de coisas básicas, como por exemplo a palavra-passe da nossa conta profissional ou, na pior das situações, a nossa idade/nome/morada/código-postal. Basicamente, é possível esquecermo-nos de quem somos. Vérias são vérias, pois é? [Como nos esquecemos da idade passamos a ser uma criança que acaba as frases com as palavras "pois é"]. 

Enlouquecer por tudo e por nada. Há uma certa loucura que só às férias pertence e que se justifica, muitas das vezes, com os motivos enumerados acima. Faz parte, não é assim? Passam depressa, mais vale aproveitar enquanto duram. Pode ficar alguma coisa esquecida que nos fará voltar para trás, podemos ter de andar durante muito tempo, podemos não encontrar um lugar para o carro, podemos ter de esperar em filas, podemos apanhar escaldões em sítios do corpo que não conhecíamos, podemos ter a toalha sempre cheia de areia. Ou podemos simplesmente passar por tudo isto e sorrir. Fazer aquele sorriso forçado. Ninguém disse que estar de férias era fácil, pois não? Aguentem. Nem o descanso seria só descanso se não nos sentíssemos cansados.

 

Haverá, certamente, mais a acrescentar. Uma coisa tenho de deixar bem clara: o Algarve é um lugar maravilhoso e, precisamente por isso, há esta corrida a sul no mês de agosto. Este ano já contribui. Regresso num mês mais calmo. Boas férias para quem estiver a gozá-las. Bom trabalho para quem está a ser gozado [e este trocadilho maroto, han?]. 

 

Thanks, Algarve. Agora só em inglês, é o mínimo que posso fazer. With love,

 

Carol

 

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