Relato dos últimos dias de agosto
A cinco dias de setembro, são muitos os que fazem aquela contagem decrescente dolorosa qb. Sei que, ainda assim, há muitas pessoas de férias num mês que não seja o mês de agosto, mas é para a maioria que me dirijo. Podem não querer admitir algum nervosismo, no entanto eu consigo senti-lo daqui. Admitam, os últimos dias de agosto são um tanto ou quanto perturbadores, até para quem não começa a trabalhar logo no início de setembro. Para mim, esta contagem decrescente pode muito bem assemelhar-se a um relato de futebol. Reparem só:
- Pontapé de saída para o dia 27. João a tocar para Margarida, que atende a chamada, apesar de estar de férias com a família no Algarve, e diz "sim sim, é melhor combinarmos alguma coisa esta semana porque a faculdade não tarda está a começar e depois não há tempo para mais nada". Margarida faz um passe curto para os amigos que já regressaram das férias com os pais e que decidem que esta é a última oportunidade de aproveitarem o verão ao máximo antes do mês acabar. Afonso recebe a bola e fica nervoso só de ver que o calendário muda a folha dentro de poucos dias. Entrega para Filipa, que publica no instagram as fotos que restam do verão com a legenda "vai deixar saudades #summer18". Pontapé de saída para os Flamingos e Bóias-Donuts-Com-Pepitas-Coloridas.
- Dia 28. Entrada duríssima de Nostalgia sobre Cérebro-Desligado-Modo-Férias. O árbitro levanta os dois braços e grita "segue!". Cérebro-Desligado-Modo-Férias fica a contorcer-se no relvado. Miguel recebe a bola, com saudades do verão que ainda não acabou. A bola sai, perdida. Nostalgia grita "Vais sentir falta vais! As manhãs na praia, as tardes na piscina e as noites na discoteca. Está a acabar. Não se vai repetir. Podias ter aproveitado mais!".
- Dia 29, a pressão acentua-se. Passe curto entre Vasco e a mãe, que tenta convencer o filho a ser mais dedicado no ano letivo que se aproxima. Joana está adiantada, esperou o verão todo por mostrar o bronze que conseguiu nos 6 destinos paradisíacos onde esteve com a família. Tenta o chapéu, aquele que comprou de propósito para tirar uma foto sentada na Bóia-Unicórnio, e... bola por cima. Pontapé de baliza para a Vida Real, tão distante quanto possível. Vida Boa vai bater... O que acabou de acontecer? Vida Boa é atingida por um objeto vindo das bancadas: uma rotina, com horários a cumprir.
- Estamos de regresso para a 2ª parte, dia 30. Pontapé de saída para o grupo de amigos que conseguiu organizar uma última ida à praia antes do final do verão. Eles entregam para o grupo que não conseguiu combinar um simples café porque, mesmo de férias, cortavam-se todos à última da hora. Colocam a bola no chão e entregam para Trânsito no Sentido Lisboa-Almada [mais especificamente Costa de Caparica], que vai coxeando naquele que será o último para-arranca [neste sentido] desta temporada. É a loucura nas praias.
- Estamos já em tempo de descontos, dia 31. O casal-de-amigos-sem-filhos desmarca-se e prepara-se para ir de férias na tranquilidade do próximo mês. O Stress domina e tem um corredor livre à sua frente. As Bagagens desfazem-se em lágrimas, as Pulseiras dos Festivais aguentam-se como podem e a Normalidade apressa-se a regressar como se nunca tivesse ido embora. Fora de jogo para Agosto. Não vale a pena reclamar com o árbitro. O público faz de tudo para mostrar o desagrado: desde throwbacks no instagram a montagens duvidosas enviadas para grupos do whatsapp. E reparamos em tudo o que vamos fazer pela última vez este verão: última saída à noite, último mergulho, último mergulho de nariz tapado, último croquete na areia, último gelado, última noite na esplanada, última partida de cartas com o pessoal, último raio de sol, última inspiração com cheiro a mar, última vez de chinelos na rua. "Este verão é que foi!", ouve-se nas bancadas. E o próximo há-de ser também. É preciso é ter calma e saber ouvir o apito final.
Setembro está aí, malta. E, apesar do cabeça de cartaz que é agosto, setembro também é artista. E o verão ainda não acabou. Talvez se tenham acabado outras coisas, mas faz parte, ou não? E, se querem que vos diga, não tarda é natal!
Carol