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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

15.Mar.19

Quem quer acabar o curso para não ser agricultor?

Que fique desde de já esclarecido que nada tenho contra agricultores, acho até que desempenham um papel muito importante numa sociedade que cada vez mais procura os produtos bio (e tudo o que se possa traduzir, no dicionário do instagram, na hashtag #healthylife). Utilizar a profissão de agricultor é uma metáfora. Podia ter optado por uma mãe que escolha as disciplinas que vamos ter durante um semestre (se calhar era bem mais simples assim, não era? As mães sabem que somos de “bom alimento” e que precisaríamos de escolher disciplinas que fizessem por nós tudo o que “não somos capazes de fazer sozinhos”. Não teríamos como rejeitar as suas escolhas). Prosseguiremos então com o agricultor.

 

Agora a televisão mostra-nos um “amor” à primeira vista que afinal é visto muitas (e das mais diversas) vezes. Há quem participe a achar que realmente pode encontrar o amor da sua vida e, por outro lado, há quem lá esteja apenas por estar. E, para quem, como eu, está no último ano da licenciatura, todos estes programas televisivos dão que pensar, porque, afinal de contas, são exatamente a mesma coisa que estar no último ano de um curso.

           

Falo por mim e creio que por todos os que se encontram na mesma situação que eu: não queremos namorar com o agricultor nem casar com o seu filho, só queremos acabar o curso e ter um futuro na área em que estudámos. A tarefa não é fácil. Acredito que um agricultor saiba cultivar melhor uma relação com alguém do que nós com algumas das disciplinas que, sem escolha, temos de fazer. Criticamos aqueles concorrentes quando, na verdade, nem nos apercebemos de que fazemos precisamente a mesma coisa: os defeitos não estão em nós, estão no que (e em quem) nos rodeia. Precisamos da vida facilitada e sabemos ser exigentes. E aquela vontade de rir (para não chorar) que nos dá por sabermos que todo o conteúdo é tão “bom”?

           

A grande conclusão que retiro é que nós somos “o” agricultor sem quereremos correr o risco de sermos agricultores. Numa fase final (esta por que passamos agora) acredito que muitos já tenham percebido se o curso (aquele que a certa altura nos parece o par ideal) é apenas uma paixão ou um amor com futuro. Em ambas as situações, é a nossa vez de apalpar terreno (eu bem disse que éramos “o” agricultor) e de percebermos se, como finalistas, chegamos à final com vantagem. Merecemos a oportunidade de nos sentirmos vencedores (nem que seja pelo simples facto de termos conseguido terminar aquela disciplina que nos dava pesadelos, o amor-ódio que é sempre mais ódio que amor). Ergueremos orgulhosos o prémio de finalistas e agradeceremos à produtora (que seria de todo este percurso sem ela?), sem esquecer todos os críticos que (como sempre) não viam o programa, mas tiveram sempre uma palavra a dizer. E acabamos por concluir que a vida de universitário não é a nossa horta, mas sim a nossa praia.

           

Quero acabar o curso para não ser uma agricultora (e, repito, nada tenho contra quem o é). Quero viver num país que se dedica à agricultura biológica dos seus cidadãos, para que estes possam ter o espaço e as condições que precisam para crescer nele de forma saudável, desenvolvendo as áreas que estudam durante anos. Embora seja dada a metáforas, não quero que este tipo de programas seja uma para Portugal. Somos mais do que isso.

           

Televisão, sabes que és uma paixão antiga a caminho de te tornares num amor com futuro, não me dececiones. Acho que não te estou a pedir muito: dá tanto destaque aos talentos que são colhidos por esse país fora, nas mais diversas áreas, como tens dado a agricultores desesperados por um fertilizante à medida e a mães ansiosas por escolher uma nora feita por encomenda.

           

De uma agricultora (que está a fazer por não o ser) para outros agricultores: mesmo quando parecer que o esforço não vai dar frutos, o segredo é continuar a cultivar e a acreditar. Ou concorrer outra vez. Temos terrenos férteis, não nos esqueçamos disso.

 

Finalistas que me leem, estamos a cavar na mesma direção. Interessados em trocar apontamentos?

 

Carol

 

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