Oh, abril!
Oh, abril. És um mês tão bonito. És todas as estações que se vestem entre um casaco quentinho ainda no roupeiro e uma t-shirt leve puxada à pressa da gaveta. Aqui entre nós, gostas que falem de ti, gostas que digam que confundes as pessoas, que as arrastas para o sol e as fazes correr para longe da chuva surpresa. Pintas céus brilhantes e coloridos. Isto, claro, quando não estás muito virado para o cinza escuro. Trazes sempre a chuva envergonhada do resto do ano. Até te escreveram um provérbio exclusivo, que ninguém se esquece de repetir só para provar que tem razão. És águas mil. Vês, eu disse que só queres é que falem de ti.
Mas és um mês tão bonito. És aquelas calças que ficam bem com todas as camisolas. Porque, enquanto existes, tudo parece combinar com tudo. As peças de fruta pousadas em cima da bancada da cozinha da Dona Amélia fazem pendant com a sua blusa de meia manga [que não é fruta mas deu frutos entre os senhores do café]. As faces rosadas do André, depois de uma corrida para o autocarro, são o blush que lhe disfarça o rosto cansado e pálido da rotina enfadonha. Não sei se dás cor, se a cor é tua. Abril, seu vaidoso.
Até já conquistaste as praias, ao tentar roubar um pedaço do verão, mas o que te assenta mesmo bem são os tons do campo, das flores e dos jardins. És o quadro mais perfeito do calendário. Dezembro tem o frio, o Natal, as mantas no corpo e as meias nos pés. Agosto tem o calor, o pico do verão, o biquini no corpo e os chinelos nos pés. Tu também não te livras dos clichés. Não tens nada disto, porque não deixas que percebamos o teu temperamento. Talvez não queiras cair no básico, no rotineiro, no previsível. E esta incerteza dá-te a beleza de que precisas para ser abril.
É bom ter-te de volta. E eu tenho-te sempre. És o meu mês. Não sei se é por isso ou por outra coisa qualquer, mas és o mais bonito de todos. Oh, abril, já tinha saudades tuas.
Carol