O poder de um postal
Diz, quem sabe, que o mundo é redondo. E, pelas voltas que a vida dá, sou capaz de acreditar. Se é plano, não me pertence, já que saiu fora dos meus planos ao descobrir parte de si num postal no interior da minha caixa do correio. Um postal [sintam a excitação, por favor!]. Escrito à mão. Com selos. Vindo diretamente do Dubai. Com uma mensagem de uma das minhas melhores amigas. Não sei como reagir. Devo conseguir contar pelos dedos das mãos o número de vezes que recebi postais [para não falar de um lugar tão distante]. Esta aconchegou o coração de quem não troca um teclado por uma caneta e uma folha de papel. Reparei, pela data, que demorou quase um mês a chegar. Se fosse uma mensagem urgente, teria chegado por whatsapp, esse correio instantâneo até no recanto mais escondido deste mundo e do outro. Mas chegou e funcionou como um bilhete de avião para o Dubai, ainda que esteja parada e enternecida a olhar para ele no lugar em primeira classe que é a cadeira da minha secretária. As surpresas deste mundo pequeno e esférico, e as lembranças de quem nunca se esquece de nós, são, definitivamente, o que mantém a rotação e o equilíbrio. As coordenadas da amizade estão neste postal escrito à mão com uma imagem a 3D, ainda que não haja uma dimensão justa para agradecer gestos como este. O que, de repente, me deixou a pensar: estou constantemente a trocar mensagens escritas com pessoas a quem nem sequer conheço a caligrafia. Essa arte bonita que me chegou às mãos quase um mês depois de ter saído dos Emirados Árabes Unidos. Catarina, foste longe, mas fizeste-me sentir perto. E acertaste em cheio na morada deste coração que tem um fraquinho pela escrita tradicional, que de tradição já tem pouco. Muito obrigada. Estas surpresas desorientam qualquer globo. Agora quero escrever um postal. Antes disso, vou desfazer as malas da viagem que sinto que acabei de fazer.
Fazes pessoas felizes, Catarina, até quando não me respondes às mensagens no whatsapp. Vai lá ao telemóvel que eu quero agradecer-te como deve ser. Tu que estás sempre online. Será que um postal de agradecimento chega até ti mais depressa?
Carol