Como uma onda do mar
Podes tentar. Podes até procurar no recanto mais escondido, na gaveta mais trancada, no local mais distante. Podes imaginar, se não o conseguires ver. E podes até nem ver bem. Ninguém vê bem o sol se não souber esperar pela melhor hora para o apreciar. Pacientemente, é possível vê-lo esconder-se, sabe-se lá onde. Retira-se num piscar de olhos aos olhos de quem o observa. Traz a noite, sem mudar muito mais do que a luminosidade das ruas. Faz-se bonito, consoante os lugares. Desaparece. É um ciclo. Mas não se repete. Nem se vê todos os dias. É o início da luz artificial. Leva dias bons e "assim assim", recusando-se a revelar os segredos que já lhe contaram ao final da tarde. Conhece bem os verões e os invernos. Estende-se para quem lhe estende uma toalha na areia antes de abandonar a praia. Tem a sombra e os tons quentes. É artista do céu para a plateia em terra que anda com a cabeça na lua e os olhos posto no pôr-do-sol. Podes tentar. Aprecia-o. Não lhe fiques indiferente, até porque isso é tarefa árdua. Deixa que ele se reflita no teu olhar, que se apodere dele. Sê o espelho de uma imagem bonita, quase perfeita. Tenta mesmo. E não tenhas medo. Conta-lhe os teus segredos enquanto ele desenha, detalhadamente, a tua sombra.
E esse olhar, que tu podes até tentar, vai, como uma onda do mar, nunca mais voltar.
Carol