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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

21.Set.18

Às páginas tantas [#9]

Acabaram-se as férias de verão. Arrumou-se a pilha de livros que tinha em cima de secretária. A realidade venceu à ficção em que gosto de mergulhar e agora só ponho os pés de molho nas sebentas, sem me aventurar muito nessas águas profundas. Ainda assim, ando secretamente com um livro na mala [não vá proporcionar-se um mergulho], mas mal tenho tempo de o tirar para fora. Não obstante a melancolia com que dei à costa, acabei em grande a minha época balnear com o livro A Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata. Mentiria se dissesse que o nome me ficou na cabeça. Na verdade, tudo começou quando vi o filme [que sugeri aqui].

 

 

Se tiverem oportunidade, leiam o livro e vejam o filme [coisa que fiz pela ordem inversa]. Gostei tanto da história, com interpretações e uma realização fantásticas, que soube imediatamente que não podia ficar por ali. O livro é a junção das cartas, e alguns telegramas, trocadas entre as personagens num cenário Pós II Guerra Mundial. É com uma carta [e devido a um livro] que tudo começa. Para quem gosta de literatura, este livro é aliciante [e não desilude]. A História da época é narrada com tanta habilidade que nada nestas páginas se torna maçador, só queremos continuar a ler e a saber sempre mais. Sentimos a fragilidade com que os habitantes da ilha de Guernsey viveram durante tempos difíceis e de total impotência. A guerra, o sofrimento, o medo, o humor, a ironia, o amor e a amizade estão lá, em cada carta, em cada personagem. Mas também há esperança, essa a crença nos dias que virão, que serão melhores, que será possível viver sem receio. Porque, mesmo nas situações mais desesperantes, em que nem sequer temos controlo sobre o que nos pertence, haverá alguém, alguma coisa, algum abrigo. As pessoas unem-se quando vivem, ou sobrevivem, oprimidos por uma guerra que não começaram. Essa é uma das muitas mensagens de Sociedade Literária. Os piores momentos conectam pessoas e, apesar de as fazerem sofrer, mostram-lhes que a vida tem outros sentidos para além daquele que definimos como o nosso. Há muito poder em saber partilhar e dar de nós para que os outros também sintam que podem dar de si. Recomeçar, ainda que não dependa apenas de nós, parte da atitude que colocamos em tudo o que fazemos para não ficar presos ao passado.

 

« A nossa noite de sexta-feira no clube do livro tornou-se um refúgio para nós. Uma liberdade privada para sentir o mundo a ficar mais escuro à nossa volta, mas é preciso apenas uma vela para ver novos mundos revelarem-se. Isso foi o que encontrámos na nossa Sociedade. » 

 

Na Sociedade Literária da Tarte de Casca de Batata, um porco e uma tarte [de casca de batata] uniram pessoas que não mais se separaram. O rumo das vidas ficou alterado para sempre. A guerra mostrou-se diferente porque a solução esteve nos laços que se criaram, nos livros que se leram, nas cartas que se trocaram e nas gargalhadas que se partilharam. E, sim, os livros conectam pessoas, criam amizades e escrevem histórias de amor. Mesmo nestas circunstâncias, o inimigo não é necessariamente quem [e como] nos disseram que era.

 

 

Escrito sob uma ótica positiva e bem humorada, esta história tornou-se numa das minhas preferidas e está arrumada nas prateleiras mais perto do coração de uma leitora que só exige páginas bem preenchidas. Não é só mais um romance sobre a II Guerra, nem um drama sobre os resquícios que dela ficaram. É tão mais do que isso. Sendo ainda o amor à escrita, aos livros, aos serões bem passados, àqueles de quem só ficou a memória, àqueles que sobreviveram e aos que surgiram depois, mas nunca tarde demais. O filme complementa o livro, não sendo tão detalhado nem seguindo à regra todas as cartas. É tão bonito e vê-se tão bem que eu não me canso de revê-lo e tentar imaginar o que aconteceu depois. 

 

Às páginas tantas, a nossa melhor companhia, nas situações mais difíceis, pode estar num livro e revelar-se a nossa salvação. Os livros transportam tanto para lá de palavras [espero que um dia todos consigam entender isto]. 

 

Carol

 

ASociedadeLiterária.JPG

  

[para verem as minhas sugestões de leitura anteriores basta clicarem aqui!]

2 comentários

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    carol 23.09.2018

    Sim, espreita! Se vires/leres depois diz alguma coisa 😉
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