Amanhã é um dia importante para os Soldados. - Vai ditar a nossa liberdade. Assim, e na enorme expectativa de guardar o positivismo apenas para os pensamentos, não há muito a acrescentar sobre o dia de hoje. No campo de batalha, continua tudo calmo. O Soldado F., já livre de funções, aguarda que os restantes possam respirar do mesmo alívio [e do mesmo ar, finalmente sem máscaras]. É por isso que o dia de amanhã é tão importante para os Soldados. E muito possivelmente (...)
Depois da pausa de Natal, e tal como combinado, cá estamos de novo. É oficial: o Soldado F. está livre e pronto para regressar à vida-lá-fora [tão subvalorizada até ao ano 2020]. Fiquem a saber que até já teve direito a partilhar a consoada com os restantes Soldados, na mesma mesa em que todos se transformam em membros da realeza [com uma ou outra diferença e, não obstante, uma ou outra semelhança]. É caso para dizer que o Soldado F. ainda estava com um pé no campo de (...)
E, de repente, é véspera de natal. No campo de batalha dos Soldados M. e F. e no mundo exterior [não podia calhar tudo só aos mesmos, não é?]. Para não ser exceção num ano tão excecional, o natal de 2020 é daqueles que fará parte das histórias começadas por “isto contado ninguém acredita, terias de ter estado lá para ver”. E o mais incrível é que todos [até mesmo os que não estiveram para ver] já tão exasperados de ouvir a[s] mesma[s] história[s], não vão (...)
Sentei-me na mesa do canto. Aquela em que mais ninguém se quer sentar porque a janela está estragada e, por isso, constantemente a abrir-se. As mães queixam-se das correntes de ar que constipam os filhos, mas os miúdos não querem saber e escapam-se-lhes num piscar de olhos lá para fora. O vidro estremece quando o grupo de crianças lhe acerta em cheio com uma bola. Cá dentro, as mesas abanam e as chávenas de café tilintam e os velhos nem se apercebem, porque a idade já lhes (...)
“O mundo é pequeno”. Mas o mundo é grande. Cabe num globo ao canto da secretária, na espessura de uma folha de papel colada na parede do quarto e num porta-chaves a escorregar do bolso das calças. Mas recusa-se a caber nas 24 horas de um dia, numa só viagem de avião e, muito menos, entre a roupa amarrotada de uma mala de mão. O mundo escapa-nos com facilidade, se um piscar de olhos não for rápido o suficiente ou se virarmos as costas ao despertador. Diz-se muita coisa sobre (...)
Senta-se sempre ali. Na mesinha da ponta da esplanada, onde toma um café cheio e um copo de água morna. Ali vê quem passa. A rua é estreita. Não passam carros, mas alguns tuck tucks aventuram-se na inclinação. As caras são quase sempre as mesmas, por isso ele abre o jornal na expectativa de encontrar algo novo. A textura daquelas folhas e a tinta que lhe vai marcando os dedos ao ritmo da leitura ainda é aquilo que move as manhãs solitárias. Crimes e coisas absurdas. Não perde (...)