Talvez me tenha feito valer do confinamento coletivo para usar [e abusar] de um recolher [quase] obrigatório, mas, acima de tudo, um tanto ou quanto necessário. Vinte vinte – uma junção de números que soa tão bem, nunca nos fez suar mais – entregou-se por completo a um assustador desconhecido cujo nome já ninguém pode ouvir falar, primeiro porque não se fala noutra coisa e, segundo, porque parece que quanto mais falamos menos sabemos sobre o que estamos a falar. Assim, (...)
Onde é que já não estão as doze uvas passas [passadas, provavelmente!]. Por esta altura, já ninguém sequer se lembra das promessas com que brindou ao início do ano vinte vinte. E – entre os números das passas, dos desejos pedidos, dos sonhos por concretizar, dos anos que já passaram e dos que estão para chegar – o mês que se quer inteiro, com tudo e tanto, vai quase na medíocre metade de si. Afinal, nem nós nos descobrimos diferentes, nem 2020 é um ano assim tão (...)
O fim do ano está aí. Que nem aquele embrulho esquecido debaixo da árvore de natal, rasgado à pressa, na ansiedade de saber se o melhor ficou para o fim. Uma contagem decrescente acelerada que termina com milhares de olhos postos num céu infantil, que brinca com as cores e com os brilhos, e nos mostra um espetáculo exagerado de felicidade para receber o novo ano. O mundo, desencontrado na hora em que vê ser arrancada a última página do calendário e tantas vezes perdido por querer (...)