6 questões que coloco enquanto estudo
Nos últimos dias, tenho passado demasiado tempo sentada em frente a uma secretária a preparar-me [nem que seja psicologicamente] para os exames da faculdade. Isso fez-me reparar que me torno uma pessoa que se questiona imenso enquanto estuda. E agora vocês estão a pensar que eu me questiono se estou a estudar bem ou se estou a estudar o suficiente. Então, aviso já, estão redondamente enganados. As perguntas surgem umas a seguir às outras e, às tantas, o meu cérebro é a versão barata [e muito confusa] de Quem Quer Ser Milionário. E o resultado é mais ou menos este:
- Conseguirei adivinhar, entre estes 20 temas, quais são os dois que vão sair no exame? Hum, é impossível o professor não ter as suas preferências. Será que escolhe os seus preferidos ou os mais difíceis para nos tramar? É melhor estudar todos bem. Mas ainda me faltam dezanove temas e já só me apetece desistir da faculdade. Vá, vou estudar pelo menos os quatro primeiros e depois estudo a conclusão dos outros dezasseis. Ou será que basta ler a conclusão de todos? Valerá mesmo a pena ir ao exame?
- Qual é a probabilidade de acontecer alguma coisa que evite a realização do exame? Pode acontecer qualquer coisa no caminho até à faculdade, pode alguém sentir-se mal, pode haver algum problema com os enunciados ou o mundo pode acabar. Sim, ninguém está livre. O mundo pode mesmo acabar. Podiam era avisar antes se estiver previsto isso acontecer porque evitavam com que se perdesse este tempo a estudar. Se calhar nem vale a pena estar tão dedicada, não vá acontecer alguma coisa e, no final, não há exame para ninguém.
- Há quanto tempo estou aqui a estudar? Devo estar nisto há um bom bocado. Já me sinto cansada. Será que o cansaço já é de ontem? Ontem estudei bem. Durante quantas horas estudei ontem? Se calhar, já fazia uma pausa. Ou valerá a pena continuar até desfalecer? Quanto tempo exige esta matéria? Também não é preciso desfalecer aqui. Vou dar uma volta pela casa para esticar as pernas. Cinco minutos no sofá nunca fizeram mal a ninguém. Mas só cinco minutos, não mais do que isso.
- O que é que será que os meus colegas estão a fazer neste momento? Estarão a estudar também? Ou será que já estudaram isto no mês passado e agora estão a dormir? Mas se eles estão a dormir eu também posso não estar a fazer nada. Gostava tanto de saber se sou a única a marrar nisto ou se eles também estão a sofrer como eu. Devia ir perguntar no grupo. E se eles não respondem? Isso significa que estão a dar forte e feio na matéria e eu perdi 30 segundos a mandar uma mensagem para que pudéssemos deprimir juntos?
- Onde é que eu deixei o telemóvel? Toca a procurar. Virar a secretária do avesso, o que resulta sempre em baralhar as folhas dos apontamentos, deixar canetas caídas no chão, carregar numa tecla aleatória do computador e apagar o documento em que estávamos a escrever. Na secretária não está. Onde pode estar mais? Eu nem sequer preciso dele agora, é só para me certificar que o tenho por perto. Vou só procurar pela casa toda e chegar à conclusão que ele sempre esteve no bolso.
- Como é que será que está aquele colega de turma do 4º ano com quem não falo desde essa altura? É fácil. Acho que ainda me lembro do nome. Vou ao instagram e dou mega stalk nas fotos. No entretanto, perco dois dias de vida a fazer scroll no instagram e acabo a ver vídeos de pessoas a caírem, aquele clássico de 2010. Volto ao colega de mesa do 4º ano. Está tão diferente. Forte reflexão sobre como a vida era fácil. Nessa altura a nossa maior preocupação era saber de cor todas as letras de Morangos com Açúcar. Ah, Morangos com Açúcar... Ouvi dizer que estão a repetir a série na televisão. Correr para a televisão e ficar a ver a repetição de uma série que já deu quase no século passado. E, sim, volto a ter 10 anos. E, sim, entretanto já desisti da faculdade porque voltei a ser criança.
A capacidade do cérebro dispersar é desconcertante. Não me digam que estou sozinha nisto. Já fiz a minha pausa, vou voltar à bolha. Só mais uma questão: numa escala de 0 a Bruno de Carvalho, quanto é que eu estou a precisar de férias?
Carol