Receita para dias melhores. Ou algo do género.
Escolhe uma música que te faça sorrir. Aumenta o volume da coluna portátil que, de estar desligada faz tempo, já não sabe se te deva dar música ou se é música para os teus ouvidos. Não faz muita diferença, pois não? Ela só precisa de confiar no teu bom gosto. E tu... Tu só precisas de acreditar que o som estará suficientemente alto de cada vez que a voz te falhar. Depois é fácil. Canta. Dança. As duas ao mesmo tempo. Coordenadas. Descoordenadas. Não importa. Mas não pares. Nunca pares.
Abre as janelas. Todas. Uma a uma. Partilha com o mundo essa bela voz de cana rachada. Deixa-os imaginar que dentro dessas quatro paredes vive a personificação da palavra felicidade. E que esse corpo flexível tem a ousadia de transformar o comando da televisão num microfone e pisar o palco com meias antiderrapantes que deixam o dedo mindinho assistir ao espetáculo. Imagina tu também. Experimenta. Mas não pares. Nunca pares.
Sobe para cima do sofá ou da cama. Salta e deixa-te cair no meio das almofadas. Desfruta dessa sensação aconchegante de flutuar nos aromas familiares de um caos tão seguro e caseiro. E quando a música terminar, sabes o que deves fazer. Repete tudo, se te apetecer. Entrega-te ao silêncio, se melhor te parecer. E ri. Dá a melhor gargalhada que tiveres. Mesmo que não seja assim tão boa.
- E não paro. Nunca paro. – ripostei, num tom mais revoltado do que queria – Mas isso é impossível.
- Ninguém ri para sempre. – disseste, com toda a calma do universo.
- Também ninguém canta e dança para sempre. – retorqui.
- Pois não, ninguém canta e dança para sempre. – concordaste – Ninguém. Até alguém se rir de tê-lo feito uma única vez. Devias experimentar.
Abanei a cabeça, descrente.
- Eu só te perguntei o que devemos fazer para acreditar em dias melhores. E tu respondeste a coisa mais louca que te veio à cabeça, achas normal?
Sorriste, presunçosamente, em resposta.
Tive de sorrir também.
Carol