Creio que podemos declarar aqui o início de uma nova – e, façam figas para que curta – rubrica neste acolhedor cantinho que é o it’s carol [espero!].
É, na verdade, muito mais do que uma rubrica. E é também tudo o que não esperava escrever. Porém, os dias mostram-se cada vez mais ágeis na arte da imprevisibilidade e, por isso, por que não abraçá-los com ironia e fazer de cada momento-kinder-surpresa algo positivo?
É de [e pela] positividade que começa este diário. Que poderia, efetivamente, estar em formato Power Point. Porquê? Porque é de dia[s]positivos que se constroem esses documentos. E a vida também. Assim sendo, este diário tem um pouco de tudo. Mas principalmente de distância – que em 2020 é importante pensar positivo longe daqueles que estão positivos. Confusos? Aos poucos lá chegarão. Tudo o que têm de saber para já é que o “Slide 1” corresponde ao dia 1 [e assim sucessivamente].
Esta história começa antes do “Slide 1”, com uma inofensiva chamada telefónica. Deste lado da linha: eu. Do outro lado: o meu melhor amigo, a quem, daqui em diante, chamaremos de Soldado M. [nome aprovado pelo próprio e que, em breve, entenderão].
- O meu irmão acha que está infetado. Vai fazer o teste amanhã.
Duas frases. As duas frases que, sem sabermos, marcavam o início de dias positivos. Uma dúzia de palavras proferidas entre tantas outras, ditas num tom quase irónico, a meio de uma conversa, pelo Soldado M.
Dois dias depois, aqui estamos: eu [e também vocês, que nos leem] à distância dos dias positivos dos Soldados.
- Se escrevesse como tu, tinha muito para escrever sobre o dia de hoje. – disse o Soldado M., que não só escreve bem, como é um génio da matemática – Parece que passámos a viver num campo de batalha cá em casa. – continuou – Isto exige toda uma logística. É que a imagem que me vem à mente é que é mesmo uma batalha.
Acontece que, oficialmente, só o Soldado F. [irmão do supramencionado Soldado M.] assumiu a sua positividade na frente da batalha. O que significa que, para outros três soldados, ainda nada está perdido. E o que também implica uma logística completamente diferente entre quatro paredes.
- Até sexta-feira não sei se é uma batalha perdida. Mas, até lá, o melhor mesmo é ficar cada um no seu lugar. E, no meu lado do campo, andar de máscara na cara e desinfetante em riste.
Acho que é a esta a “nova realidade” a que tanto nos referimos em 2020. Ou, pelo menos, uma perspetiva destes dias loucos que vivemos. Sejamos igualmente loucos e deixemo-los imortalizados, com uma pitada de ironia e humor, para que, um dia, nos possamos rir disto todos juntos, em grandes ajuntamentos.
E até já me esquecia de referir a minha resposta à modéstia do Soldado M.
- O que achas de fazermos uma espécie de diário? – sugeri.
Posto isto, aqui está o nosso diário [partilhado] dos dias positivos a que irei assistir à distância. Juntem-se a nós. Enquanto estivermos negativos, tudo o que precisamos é de uma boa dose de leveza para olhar para o calendário.
As melhoras, Soldado F. Vai correr tudo bem. Já vais ter uma história para contar aos filhos e netos, quando 2020 parecer apenas um sonho difuso.
Creio que agora já estamos todos a falar a mesma língua. Amanhã voltaremos para um novo slide.
Tenham um dia bom. Se possível, não positivo. Apenas bom.
Mantenham-se firmes, soldados do mundo.
Carol e Soldado M. [do outro lado da linha]