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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

25.Nov.20

5 razões para sermos infelizmente felizes a ver a quarta temporada de The Crown

Este ano não é, efetivamente, o ano de muita[s] coisa[s]. Pelo menos, não de muitas das coisas que se fazem fora, a desfrutar do privilégio que é ter uma rotina minimamente normal [tranquila e livre, lembram-se?]. Desta feita, e porque ver o lado positivo da vida é sempre muito mais desafiante do que perder tempo a fazer o contrário, parece-me que 2020 nos tem dado mais do que tempo para [re]descobrirmos e gozarmos de tudo o que mais gostamos de fazer na paz do nosso lar doce lar. Se esta é a desculpa perfeita para uma estada prolongada no sofá, de olhos postos na televisão, a devorar Netflix durante aquelas 24/7 básicas? Talvez. Se é a desculpa que preciso neste momento para não me sentir tão mal comigo própria? Não confirmo nem desminto [inserir, porém, emoji de menina-feliz-de-braços-no-ar!]. Se sei que não sou a única e que, neste momento, tranquilizo algumas consciências pesadas que me leem? Tenho a certeza que sim [confessem!]. Se basta de interrogações e vamos diretamente ao assunto? Do que estão à espera para continuar a ler?

 

The Crown já estava no meu top [impossível de numerar] de séries preferidas – ainda que não tenha caído de amores pela terceira temporada [muito provavelmente porque adorava o elenco das duas primeiras temporadas e não estava psicologicamente preparada para o trocar por outro]. Mas, sejamos honestos, se uma série que chegou a custar cerca de 13 milhões de dólares por episódio, não é uma forte candidata a todos os tops e mais algum então não sei o que será. Classificações à parte, a quarta temporada de The Crown está qualquer coisa. Sem me alongar muito, eu A-D-O-R-E-I [e até sou capaz de já ter feito as pazes com a troca dos atores]. São 10 episódios de Princesa Diana, de Príncipe Charles, dos dois juntos, separados e assim-assim; de Primeira Ministra Margaret Thatcher, de Rainha Isabel II, das duas juntas, separadas e assim-assim; e, entre belos palácios e paisagens extraordinárias, de mais algumas personagens igualmente belas e assim-assim.

 

The Crown (Netflix)

 

Terminei a temporada há uns dias e ainda estou a digerir tudo [e, nos entretantos, a ver todas as entrevistas e behind the scenes disponíveis no YouTube – um clássico!]. É uma temporada difícil de ver, por todos os motivos e mais algum. De entre tudo o que há para dizer, e do muito que se tem dito e escrito, sobre a série, cheguei a uma conclusão: The Crown é uma série que nos deixa infelizmente felizes. Ao contrário de todas as séries a que assistimos para nos conseguirmos imaginar em vidas que nunca teremos, cujos episódios nos fazem questionar “mas por que é que aquilo não acontece comigo?”, a série que retrata o reinado da Rainha Isabel II tem exatamente o objetivo oposto. The Crown, e embora o seu embrulho de história-de-príncipes-e-princesas não o faça parecer, serve, em grande parte, para nos fazer pensar que nada mais desejamos que não a nossa pacata vida sem espaço para sangue azul [“ainda bem que não calhei na realeza”, apetece-nos sussurrar baixinho entre episódios].

 

Atenção, esta conclusão a que cheguei não foi tirada ao acaso. Fiz uma lista com cinco razões para sermos infelizmente felizes a ver a quarta temporada de The Crown:

 

1 – É muito mais fácil ser uma princesa da Disney

Se é para ter o título e viver um conto de fadas a sério [e verdadeiramente feliz], creio que as princesas da Disney percebem mais do assunto. Que vida têm as princesas da família real? Olhem para o exemplo da princesa Diana. Vida de princesa, como nós [as aspirantes-a-princesas-antes-de-percebermos-que-as-únicas-princesas-realizadas-não-passam-de-desenhos-animados] lhe chamamos não é, de certeza. Escrevi a palavra “princesa” demasiadas vezes? Touché.

 

2 – A internet deve ser péssima numa casa tão grande

A dificuldade que seria ter uma aula online num palácio como aqueles. Sim, teríamos os fundos mais bonitos para exibir nas videochamadas, mas assim que precisássemos de mudar de divisão, lá se ia abaixo a ligação à internet. E o tempo que deve levar voltar a encontrar o espaço onde a rede é melhor? Quando lá chegássemos, já lá teríamos um primo em terceiro grau a assistir a um tutorial no YouTube sobre “como fazer uma vênia perfeita”.

 

3 – Não há memória que aguente ter familiares com muitos nomes e muitos nomes com muitos familiares

Parece um trocadilho, mas é a mais pura das verdades. É que, para além da família real ter elementos a perder de vista, esses mesmos familiares têm nomes que ninguém se atreve a memorizar [até porque chega a ser humanamente impossível]. E a dinâmica que é necessária para tirar uma fotografia de grupo [um clássico de The Crown]? Tudo no dia-a-dia daquela família exige algumas capacidades – prefiro chamar-lhe assim, deixo outras expressões para a vossa imaginação depois de assistirem a esta última temporada – que muitos de nós dispensam, estou certa?

 

4 – É preciso ter aulas para aprender a estar em família [uma licenciatura, arrisco-me a dizer]

Por falar em família, e na dinâmica peculiar que ter sangue azul impõe, imaginem como seria a vossa vida se tivessem de cumprir regras especificas para cumprimentar todos os vossos familiares. Tenho a certeza de que as vossas mães-rainhas não se sentiriam incomodadas se tivessem direito uma veniazinha sempre que vos vissem [mesmo que isso acontecesse a meio da noite, na cozinha, de pijama e com um penteado que mete medo ao susto, de ambas as partes, claro]. Contudo, à exceção dos progenitores que merecem ser tratados como verdadeiros reis, não acredito que fosse algo que fizéssemos muita questão de pôr em prática. Contactar um assistente só para podermos almoçar com os nossos pais? Esqueçam. Como se alguma vez fossemos capazes de viver sem os “okays” enviados sem qualquer emoção ou a chuva de emojis felizes e bastante ilustrativos.

 

5 – Serem publicadas fotografias tuas que nem sequer podes escolher

Não há muito a acrescentar a esta. Se escolher uma fotografia [entre as 100 que costumamos tirar] já é uma dificuldade para a maioria dos utilizadores de redes sociais até à data, tentem imaginar ver uma fotografia [captada em qualquer momento e, muito provavelmente, sem o vosso conhecimento] circular por tudo o que é espacinho neste mundo meio desesperado por desespero.

 

The Crown (Netflix)

 

Estas são apenas algumas das razões [entre tantas tantas tantas] que, olhadas de um ângulo com ironia e sentido de humor, mais me fizeram sentir infelizmente feliz a assistir à quarta temporada de The Crown. Cada episódio faz-nos suspirar de alívio por nunca termos sido esquisitos a escolher a cor do nosso sangue [bem como querer salvar quem percebeu tarde demais que o azul não era de todo a sua cor].

 

Nem tudo é o que parece. E a série, com muita ficção e realidade à mistura, mostra muito daquilo que de mais cruel é preciso fazer para parecer.

 

Espectadores de The Crown por aí? Estou a precisar de falar sobre o assunto [caso ainda não tenham reparado]. Acusem-se.

 

Carol

 

The Crown (Netflix)

 

20.Nov.20

Não desconfinem, ainda estou aqui!

Talvez me tenha feito valer do confinamento coletivo para usar [e abusar] de um recolher [quase] obrigatório, mas, acima de tudo, um tanto ou quanto necessário.

 

Vinte vinte – uma junção de números que soa tão bem, nunca nos fez suar mais – entregou-se por completo a um assustador desconhecido cujo nome já ninguém pode ouvir falar, primeiro porque não se fala noutra coisa e, segundo, porque parece que quanto mais falamos menos sabemos sobre o que estamos a falar. Assim, entre ser apenas mais um eco das demasiadas vozes que nos sussurram expressões que nunca esperámos ouvir fora de um filme de ficção científica ou permanecer no meu cantinho, optei por fazer jus ao meu silêncio. Um silêncio tão atónito quanto aquele que ainda hoje nos assombra de cada vez que lemos as notícias do dia.

 

Não é de loucos pensar que falta pouco mais de um mês para o ano terminar? E não foi como perfeitos loucos assumidos que conseguimos andar de mão dada com ele [ainda que, uma dúzia de vezes, pendurados no dedo mindinho]? Aprendemos a reduzir a imensidão de um mundo a números alarmantes que, no entanto, dizem tão pouco sobre as verdadeiras dimensões de tudo isto. Diz-se por aí que conhecemos uma nova realidade, nos reinventámos, nos teletransformámos, nos mascarámos e fizemos mais umas quantas coisas que, embrulhadas nestas novas expressões, até parecem ter tudo para dar certo, mas – e, caso tenham acordado agora de um coma, lamento ser eu a dar-vos esta novidade – não se deixem enganar. Vinte vinte também tinha tudo para ser música para os nossos ouvidos e vejam onde estamos agora. Malditas fake news, já dizia um velho e teimoso nosso conhecido [a quem o ano deu o merecido desfecho!].

 

Nem conhecidos, nem desconhecidos. 2020 não é ano para confiar em ninguém. Agora só confinamos, não confiamos. Que depois deste ano, quem não põe as mãos no fogo por mais ano nenhum [nem sequer por aqueles que tão bonitos ficam quando escritos na capa colorida da agenda] sei eu bem quem é.

 

E não, este [ainda] não é um texto reflexivo de fim de ano. Serve apenas para vos dizer que estou a ter um ano exatamente como o vosso, seus atrevidos habitantes destes loucos anos vinte. E também estou de volta – que o it’s carol já me gritava ao ouvido por um desconfinamento urgente.

 

Não descofinem, estive sempre aqui. Acho que ainda me lembro como é que isto se faz, por isso talvez possam confinar um bocadinho.

 

Perdidos por cem, perdidos por mil, não é assim?

 

Carol

 

Ainda estou aqui!.JPG