Dezembro, o mês das últimas vezes
O fim do ano está aí. Que nem aquele embrulho esquecido debaixo da árvore de natal, rasgado à pressa, na ansiedade de saber se o melhor ficou para o fim. Uma contagem decrescente acelerada que termina com milhares de olhos postos num céu infantil, que brinca com as cores e com os brilhos, e nos mostra um espetáculo exagerado de felicidade para receber o novo ano. O mundo, desencontrado na hora em que vê ser arrancada a última página do calendário e tantas vezes perdido por querer aproveitar sempre mais, encontra-se na mesma ânsia de ver chegar mais de três dezenas de dias a que gostamos de chamar futuro. Porque a imprevisibilidade do que está para vir é sempre mais aliciante do que o que momento em que nos encontramos. Mas nem sempre em dezembro, o mês que nos acorda para, e com, um presente que acontece “pela última vez este ano”.
Dezembro é o mês das últimas vezes. O último almoço, a última vez que nos encontramos com aqueles amigos, o último fim-de-semana, a última música, a última palavra, a última dança... As coisas mais insignificantes ganham uma nova importância. Mesmo que sejam as primeiras coisas que façamos no próximo ano, será a última vez que as fazemos agora. Neste mês, tudo tem um sabor a despedida consciente e forçada – inclusive aquele bombom que tiramos discretamente da caixa e sabemos ser definitivamente o último – que nos leva a olhar com nostalgia para o calendário e constatar que, em doze meses, nunca trinta e um dias se escaparam de nós com tamanha perícia.
E entre os votos de Feliz Natal e um bom Ano Novo, que perduram mais de um mês sem excederem o prazo de validade, a ideia de usufruir do tempo presente acaba sempre como começou: meio esquecida. Mesmo assim, haverá sempre uma vozinha que perdurará e que, entre um abraço atabalhoado sob o aroma dos casacos a estrear, deixa escapar a piada infalível e clássica do “vemo-nos para o ano”. Não há como não sorrir. Porque o "para o ano" é tão distante como dois dias, duas horas ou dois minutos. E nesse espaço de tempo, temos tempo para decidir quais são as últimas coisas cuja data queremos encerrar com os quatro dígitos que, dentro em breve, já estarão desatualizados de acordo com o calendário.
Dezembro dá-nos tudo com a mesma fugacidade com que nos tira. Não lhe chamaria um presente envenenado. Prefiro arriscar pedir que, para o ano, chegue mais cedo. Talvez antes de setembro ou outubro. É que é um bom mês para ser o último, para ter o último dia e todas as últimas vezes. É muita responsabilidade para um mês só. Ninguém gosta de ver as coisas boas terem um fim ou acham que as últimas fatias de pizza ficam no prato porque alguém tem vergonha de as comer?
Desejo o melhor para as vossas últimas vezes este ano. Sejam bons em todas as vezes que a vida vos der a pizza completa em 2020.
Carol