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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

30.Set.19

Miúdos, vamos salvar o planeta!

Os miúdos brincam de manhã à noite. Não gostam de dormir muito para não perderem tempo ou para o tempo não se perder sem eles. Pedem mais cinco minutos, mais meia hora, mais uma vida de tempos livres e outras tantas livres das aulas. Os miúdos torcem o nariz à comida quando não são torcidos para gostarem de tudo. São os primeiros a pedir para sair da mesa, porque a noite ainda é uma criança e não há como dizer que não a mais um convite para brincar.

 

Os miúdos têm a melhor imaginação. Gostam de conversar com amigos imaginários, de voar para lugares distantes, de desenhar o que só está visível aos seus olhos, de criar dicionários com conceitos que mais ninguém precisa de entender. Os miúdos entendem-se como ninguém. Abraçam como se, assim, pudessem segurar o mundo nos braços. E choram, riem, esperneiam, viram as costas, deitam a língua de fora e batem o pé no chão. Na mesma medida. Mas depois voltam a abraçar e nunca mais se lembram do que aconteceu entre tantos abraços.

 

Os miúdos dão tudo o que têm. Mesmo quando não têm nada mais do que um Chupa Chups e uma mão lambuzada com sabor a morango. E não cobram nada de volta, ainda que não saibam recusar uma guloseima. Os miúdos têm línguas feitas de açúcar. Dizem que sim e que não com a mesma facilidade com que escolhem o próximo baloiço para andar. E, ao contrário do que todos pensam, não são inconsequentes. Sabem muito bem o que querem e até onde vão os limites da paciência das vozes gritadas, que lhes pedem cautela sempre que decidem correr para longe.

 

Os miúdos são surpreendentes. E surpreendentemente diferentes uns dos outros. Num abrir e fechar de olhos, as alturas marcadas na parede passam a ser um arco-íris de recordações à espera da altura certa para ganharem forma numa personalidade forte e dona do seu nariz. Os miúdos crescem. Mas nunca se esquecem de como era bom brincar de manhã à noite, ter a melhor imaginação e dar tudo o que tinham. Porque ser miúdo é não ter medo do que se pode perder. E alguns miúdos acabam por se perder pelo caminho, pelo tempo e pelo mundo. Outros continuam, simplesmente, destemidos, a concluir que nenhum chocolate foi trocado em vão, nenhum oceano foi sobrevoado sem destino, nenhuma birra foi perdida sem uma desforra à altura. Os miúdos serão sempre miúdos enquanto acreditarem.

 

Os miúdos são tudo o que o mundo quiser fazer deles. Mas, se um dia uma miúda conseguir pegar num pedaço do mundo e decidir que está na altura de parar de brincar com coisas sérias, não se admirem. Nem se assustem. Às vezes, uma miúda e uma mensagem importante são tudo o que precisamos para prestar atenção ao que temos vindo a ignorar. E, se muitos miúdos se juntarem a ela, não se deixem enganar. Todos sabemos que os miúdos se unem em duas situações: quando há pastilhas e quando têm mesmo razão. O mundo é dos miúdos, mas eles precisam de todos nós. Tal como nós precisamos deles, porque há muito tempo que deixámos de saber brincar com isto.

 

Obrigada por [nos] gritarem que é preciso salvar o planeta, miúdos!

 

Carol

 

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18.Set.19

Memória de Dory com espaço para setembro

Por vezes, quando tomo consciência da facilidade com que me esqueço de determinadas coisas sinto que não há no mundo memória pior do que a minha. Depois lembro-me da Dory - aquele peixe azul meio amalucado que é impossível não adorar - e isso tranquiliza-me, ainda que não arrisque entrar numa competição para saber qual a memória que sai vencedora. Mas, mesmo assim, dona de um esquecimento muito pouco invejável, há memórias que me ficam, quais sobras de autocolantes esfregados com álcool no armário que me acompanhou toda a infância. E setembro, concretamente esta altura do regresso às aulas, reaviva em mim muitas das recordações que tenho. 

 

É como abrir um álbum de fotografias reunidas apressadamente. Não há uma ordem cronológica dos acontecimentos e muito menos um fio condutor que os ligue, mas está lá tudo. Os primeiros dias são os mais marcantes, ou pelo menos os primeiros a que tenho sempre acesso. Recordo-os em fragmentos. Os pés inquietos a balouçarem sem tocarem na gravilha do pátio, as cores vivas da roupa a estrear e o, sempre igual, perfume dos materiais novos. Por fora, um leve olhar de desdém para a criança que era há um ano - e o orgulho no tempo que nos separa e que, por isso, nos distingue. Por dentro, com os nós dos dedos brancos de tanto apertar a mão dessa mesma criança - porque afinal não há nada que nos separe, a não ser uns centímetros e uma maior crença nos sonhos que continuamos a partilhar. São assim. Todos os anos, vistos pela minha memória. 

 

É setembro. Os anúncios do regresso às aulas estão por todo o lado, compram-se materiais escolares sob o cheiro dos cadernos por estrear e a televisão mostra pais a fazerem contas à vida para os filhos poderem vestir a última tendência da moda no primeiro dia de aulas. É setembro e a minha memória de Dory dá pulos de alegria por poder trazer ao de cima o seu lado mais nostálgico. É como uma tradição que se quer sempre igual. Há espaço para nervos - porque também há mais consciência [espero!] da importância que é dar mais um passo em direção ao futuro - mas o entusiasmo do recomeço permanece intacto como me lembro de o ter sentido naquele dia em que os pés não tocavam na gravilha do pátio; e no ano anterior e cinco anos depois. É essa ânsia de um novo começo [que nada mais é do que uma continuação] que reúne todas as memórias e as coloca a descoberto nesta altura do ano. 

 

O início do Mestrado está mesmo aí. Depois conto se foi um primeiro dia digno de ser recordado por esta memória de Dory. Isto, claro, se não me esquecer entretanto. 

 

Espero que - uma vez que me foi dada esta característica - me sinta, pelo menos, como peixe na água. 

 

Carol

 

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09.Set.19

E a passagem de ano?

Acabo de receber a primeira mensagem sobre a passagem de ano. Sim, sobre a passagem de 2019 para 2020. Eu sempre disse que os grupos de whatsapp são uma agenda de combinações pendentes e promessas de encontros por marcar, mas nunca pensei que se antecipassem já para o fim do calendário quando ainda estamos no pico da rentrée.  É bom ter amigos organizados, que sabem o que a casa gasta e que fazem questão de manter vivas as notificações no whatsaap. E que, mesmo quando ainda estamos a assimilar a primeira quinzena de setembro, já se preocupam com o fim de ano, a três páginas de distância mesmo no calendário que tenho mais perto. 

 

Vamos lá ver as coisas como elas são: diz-se por aí que este ano temos verão até ao natal. Portanto, se os boatos se comprovarem e se o pai natal ainda oferecer como bónus mais uma semana de verão até ao final do mês de dezembro, dá para nos desembaraçarmos com uns calções e uma camisola fresca que estiverem mais à mão na gaveta e sair para a rua de chinelos nos pés. Quanto à comida e às bebidas, bem sabem que, com o calor, qualquer coisa prática e, de preferência, gelada está a valer, por isso parece-me que temos o cenário perfeito para entrar no novo ano [mesmo que estejamos a falar do novo ano letivo, esse sim está mesmo aí a bater à porta]. 

 

Por enquanto, como qualquer participante de um grupo do whatsapp que se preze, aguardamos no silêncio que alguém se chegue à frente e assuma, do alto do seu bronze de fazer inveja, a sua prontidão para brindar ao ritmo das doze passas. É que, efetivamente, nem falta assim tanto. Até dezembro são três meses e umas semanas. E, se o verão se prolongar assim, sem dar lugar às outras estações, talvez estejamos a chegar ao final do ano num piscar de olhos. 

 

Começam a soar as primeiras notificações. Vou fazer a minha parte e responder. Não tenho bronze, mas nunca falta a vontade de comemorar as boas amizades e uma vida que se quer organizada, mesmo que saibamos que esta antecipação vai exceder o prazo de validade e ganhar o estatuto de uma combinação-em-cima-do-joelho. Há como não adorarmos os nossos amigos?

 

E - agora falando a sério - Catarina, o que eu acho que estás a tentar combinar é uma ida à praia, estou certa?

 

Carol

 

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