Manter a barriga cheia
Se a vida se orientasse por apetites, seriamos clientes satisfeitos dos serviços de restauração por esse mundo. Descobriríamos um menu repleto de guloseimas que nos enchem o estômago e a alma. Que nem crianças mimadas, fazíamos birra à primeira colher de sopa. Porque nós queremos e podemos. Nem pensar ir na conversa do aviãozinho. Voávamos mais alto que isso, sabemos que nos escondem legumes. Exigiríamos mais do que brincadeiras de bebés. Somos crescidos para escolher o que queremos. Só cruzamos os braços e batemos o pé se não nos fizerem as vontades. Se ao menos os dias surgissem com a opção buffet, faríamos disto o que queríamos. Repetiríamos e abusaríamos. Cometeríamos o erro de não cometer erros. Dito de outra forma, não saberíamos o que é escolher o prato que tem exatamente aquilo que nós não gostamos. Até o ser que habita a desorganização, escolheria esta satisfação completa. Não que seja possível alguma vez completar os insatisfeitos por natureza. O que é certo é que os refeitórios deste planeta e do outro estariam distribuídos de outra forma. Chamar-lhe-iamos a nossa alimentação saudável e equilibrada, sem percebermos todos os malefícios que se agregam à concretização da nossa gula. Por muito que não nos agrade, mais vale provarmos o que não gostamos. Afinal, o mundo até tem a coisa pensada. Quando caímos no erro, já vamos tarde para alterar o prato do dia, mas ainda podemos fazer qualquer coisa pelo doce da casa. Numa vida orientada por apetites, olharíamos para o céu e só veríamos estrelas Michelin.
Se fosse tudo como queríamos, talvez tivessemos a barriga mais cheia. Assim, temos mais olhos que barriga. E já não nos podemos queixar.
Carol