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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

29.Out.18

Manter a barriga cheia

Se a vida se orientasse por apetites, seriamos clientes satisfeitos dos serviços de restauração por esse mundo. Descobriríamos um menu repleto de guloseimas que nos enchem o estômago e a alma. Que nem crianças mimadas, fazíamos birra à primeira colher de sopa. Porque nós queremos e podemos. Nem pensar ir na conversa do aviãozinho. Voávamos mais alto que isso, sabemos que nos escondem legumes. Exigiríamos mais do que brincadeiras de bebés. Somos crescidos para escolher o que queremos. Só cruzamos os braços e batemos o pé se não nos fizerem as vontades. Se ao menos os dias surgissem com a opção buffet, faríamos disto o que queríamos. Repetiríamos e abusaríamos. Cometeríamos o erro de não cometer erros. Dito de outra forma, não saberíamos o que é escolher o prato que tem exatamente aquilo que nós não gostamos. Até o ser que habita a desorganização, escolheria esta satisfação completa. Não que seja possível alguma vez completar os insatisfeitos por natureza. O que é certo é que os refeitórios deste planeta e do outro estariam distribuídos de outra forma. Chamar-lhe-iamos a nossa alimentação saudável e equilibrada, sem percebermos todos os malefícios que se agregam à concretização da nossa gula. Por muito que não nos agrade, mais vale provarmos o que não gostamos. Afinal, o mundo até tem a coisa pensada. Quando caímos no erro, já vamos tarde para alterar o prato do dia, mas ainda podemos fazer qualquer coisa pelo doce da casa. Numa vida orientada por apetites, olharíamos para o céu e só veríamos estrelas Michelin.

 

Se fosse tudo como queríamos, talvez tivessemos a barriga mais cheia. Assim, temos mais olhos que barriga. E já não nos podemos queixar. 

 

Carol

 

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22.Out.18

Pedro e Inês - uma história de amor com um fuso horário diferente

 

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Com o jet lag certo, que a estreia já foi a semana passada [e eu não quis perder o voo], era mais do que a minha obrigação partilhar convosco o filme: Pedro e Inês. Andava há muito tempo para vos falar sobre o livro A Trança de Inês, de Rosa Lobato Faria, agora adaptado ao grande ecrã. Comprei-o, ainda na versão "de bolso", assim que soube que o filme ia acontecer com este elenco. Tornou-se numa das minhas leituras preferidas. Já o li, reli e voltei a ler [foi uma descoberta daquelas!].

 

 

Aberto o jogo, falar-vos-ei sobre os dois formatos desta tão conhecida história [será?] que, acreditem, vos troca as voltas e se conta de uma forma bastante peculiar. Pedro e Inês é o amor em três tempos: passado, presente e futuro. Eu não quero dizer mais nada, mas se calhar não a conhecem assim tão bem. O que é isso do destino? Será possível a vida seguir a mesma sucessão de acontecimentos em contextos temporais e espaciais tão díspares? O amor não devia juntar as pessoas ao invés de ditar o seu desfecho? Seremos todos normais por sermos tão loucos? Não seria melhor aproveitarmos a loucura que nos toca em vez de a tentarmos perder?

Demasiadas perguntas? Talvez. Todas puxadas por esta história insana de tão boa que é. Não tenho respostas, nem preciso. Tudo se trata da interpretação que fazemos. E se há interpretação bem feita é a de Diogo Amaral, o D. Pedro de 2018 [e de outros três tempos]. A personagem corresponde exatamente à imagem que criei quando li o livro. Sem dúvida, um aplauso gigante para o Diogo. O restante elenco também está de parabéns: Joana de Verona, Vera Kolodzig, Custódia Gallego, João Lagarto, Miguel Monteiro, Cristóvão Campos e tantos outros. Esta história não se fazia só com D. Pedro. Aliás, esta história tem de ser a partilha que é, porque os seus principais pilares estão nas relações entre as personagens. Congratulo ainda o realizador António Ferreira, e todas as pessoas que "cabem" na produção de Pedro e Inês. Acima de tudo, a todos os envolvidos, fica o meu muito obrigada, por fazerem cinema português, por darem de si a uma arte que no nosso país tantas vezes passa despercebida e por acreditarem que, mesmo com poucos apoios e com o risco de não ter assim tanto público, o que se faz por cá vale muito mais do que números. Aplaudo de pé, todos eles. 

 

« ninguém morreu, nunca ninguém morre, só quem nós matamos na memória, no pensamento e no coração »

- Rosa Lobato Faria, A Trança de Inês

 

Vão ao cinema e vejam Pedro e Inês. Não, não é uma seca. Não, não é um filme de época. É passado, presente e futuro. Tem tudo e muito mais do que qualquer outro filme produzido lá fora. Cada vez mais, as produções portuguesas se aproximam de sucessos com impacto internacional. Se há frase que não me canso de repetir é esta, temos de ser nós, portugueses, os primeiros a acreditar na potencialidade da nossa arte. Aproveitem a Festa do Cinema, de 22 a 24 de outubro, com bilhetes a 2,50€ e não percam a oportunidade de ver este filme. As adaptações dos livros ficam muitas vezes aquém das expectativas, no entanto, neste caso, senti que, ainda com algumas nuances, faz jus ao livro e isso deixou-me mesmo feliz. O essencial está lá. Se gostarem de ler, fica a minha sincera sugestão. 

 

Não há ponteiro que saia indiferente do cinema. Ainda não acertei o relógio porque estou a pensar voltar,

 

Carol

19.Out.18

Estação incerta. Certa de que é estação.

Sua estação incerta. De manhã, já custa sair do quentinho dos lençóis. À tarde, já não se passa sem calçar aquelas meias quentinhas. À noite, já só apetece vestir o pijama polar. Em casa. Na rua este tempo veste-se da bipolaridade. Bem cedo, não dá para perceber se vai nevar ou se estarão 40 graus à sombra. Ainda assim, sabe bem um casaquinho. Que, dali a umas horas, parece o casaco mais quente que tínhamos no roupeiro. Afinal, se ainda estava bom para sandálias, por que é as botas já se andam a passear nos nossos pés tão feitos ao chinelo das férias? Ainda se transpira com aquele solinho a meio da tarde. Que agora já não tem bem um meio, visto que a noite anda com os horários trocados. A moda baralha as pessoas. Devia haver a coleção Verão-Outono. É que é isso que, de facto, acontece, conquanto nenhum estilista se chegue à frente para tornar o termo oficial. Tanto sentimos frio como achamos que ainda conseguimos aproveitar uns dias de praia. És uma altura controversa. Tema de conversa. Até versa. Se fosses poesia, não havia interpretação que te servisse. Se fosses gente, eras acusada de seres do contra e teres pouca personalidade. Ninguém te entende. Baralhas as pessoas. Não queres ser plano e por isso não deixas planear. Não é que eu não goste do verão, só acho que ele já cá andava há tempo suficiente e a dar tempo a mais. Agora é a tua vez. És diferente, uma junção do tudo e do nada do resto do ano. Não deixas sequer que te consigam caracterizar. Gostas mais que te conheçam os defeitos, mas eu já te vi bonitas qualidades quando te surpreendo de madrugada.

 

Nem queria admitir, contudo, até tinha saudades tuas. Sabes, isto de andar aqui de meias de lã e tshirt tem pouco de moda, mas estilo é característica que não lhe falta. Gosto da tua irreverência. Sua estação incerta, certa de que é estação.

 

Carol

 

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15.Out.18

Assim Nasce Uma Estrela. E todas as constelações.

 

[Este post NÃO CONTÉM SPOILERS]

 

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Se me mudasse definitivamente para uma sala de cinema agora, nem dava por isso. De repente, parece que todos os filmes que estava à espera para ver decidiram estrear ao mesmo tempo. A verdade é que o cartaz vai-se pintando à minha medida que nem um quadro que gostaria de ter na parede do quarto. Não tarda e começo a achar pequeno o ecrã da televisão da sala, porque sala agora só se for de cinema. Os últimos com quem partilhei casa foram o Bradley Cooper e a Lady Gaga em Assim Nasce Uma Estrela.

O que posso eu dizer sobre este filme? É tema delicado para mim. Escrever-vos-ia uma crítica com pouco de crítica e excesso de adjetivos positivos. A espera por este filme vem desde o momento em que vi o trailer [em junho]. Fui à estreia. E voltei dois dias depois. Estou a tentar perceber até quantas vezes é considerado pouco-normal-mas-justificável ir ver o mesmo filme ao cinema [coisa que faço com alguma frequência quando gosto mesmo muito do que vejo]. São abordados os mais diversos temas associados ao mundo do espetáculo [alguns dos quais ganham, igualmente, espaço noutras áreas]. A começar na importância dada ao aspeto físico e à beleza perante o talento no seu estado mais puro, passando pela influência que tem sabermos que alguém acredita em nós e mostrando ainda como os fantasmas do passado têm peso na pessoa que somos no presente. A atenção que damos aos outros e a forma como olhamos para eles têm um impacto que nunca imaginamos. 

 

 

Assim Nasce Uma Estrela superou todas as minhas expectativas e espero mesmo que a Academia não o deixe escapar. Pontuação máxima para a história, enredo, realização, banda sonora, interpretação e elenco [não necessariamente por esta ordem]. Passa bem mais depressa do que as duas horas e dezasseis minutos que tem. As personagens são qualquer coisa. Há personalidade nelas, bem como em tantos outros aspetos do filme. E, antes que comece a falar nos protagonistas, que fique bem claro que não há uma única personagem colocada na história só porque sim. Todas acrescentam algo e isso, parecendo um detalhe, faz diferença. Podemos falar sobre o Bradley Cooper cantor [e artista-extremamente-completo-que-faz-tudo-com-tanta-perícia, também conhecido por homem-perfeito-inexistente-nos-dias-de-hoje]? E o vozeirão da Lady Gaga? Sou sincera, nunca foi uma cantora que despertasse o meu interesse, no entanto, depois de ver o filme, passei a olhá-la com outros olhos e a ouvi-la com outros ouvidos [quer dizer, os ouvidos são os mesmos e os olhos também... vocês entenderam o trocadilho!]. 

 

 

A banda sonora é um elemento essencial do filme e está muito bem conseguida. Comprei o álbum físico [sim, ainda se vendem cd's]. E, de um momento para o outro, o meu conhecimento musical reduz-se às dezanove faixas que compõem a banda sonora. Tenho-as a passar em loop e assim será até ficar tão enjoada que não as suportarei durante os próximos seis meses. Por agora, a vida passa-se bem assim. A título de curiosidade, deixo-vos as minhas músicas preferidas [sendo que algumas delas já estão na playlist do blog]:

 

Maybe It's Time || Shallow || Music To My Eyes || Always Remember Us This Way || Look What I Found || I Don't No What Love Is || Is That Alright? || Before I Cry || I'll Never Love Again

 

Se há filme que se deva ver no grande ecrã, este é um desses. Não é preciso gostar de musicais, de histórias de amor ou do estilo da Lady Gaga. É uma experiência que se vive no momento, com aquele som, naquele lugar, naquela sala de cinema. Esta é a quarta versão da mesma história. Nunca vi as outras, não sei se são melhores ou piores. Estou mais do que satisfeita com esta. Já estou a combinar repetir [pela terceira vez]. Quando me mudar definitivamente para a sala de cinema, eu aviso. Com vizinhos que nos dão música assim, quem não se mudaria também?! E, aqui entre nós, o Bradley Cooper é música para os meus ouvidos. 

 

Assim Nasce Uma Estrela. E todas as constelações. Desse lado, alguém já espreitou por este telescópio? O que viram? Quero opiniões para a troca.

 

Carol

12.Out.18

Simples assim. E bonito. [It's Youtube #5]

Sabem quando nem dão por isso, mas passam horas a ver os vídeos sugeridos pelo youtube? Sugestões que se tornam sugestões das sugestões das sugestões, estão a acompanhar? Foi nessa viagem infinita que encontrei este vídeo. Nem havia como não partilhá-lo aqui. A simplicidade das coisas [e das pessoas] tem uma capacidade tão complexa de as despir de complexos e torná-las simplesmente em momentos bonitos. Simples assim. 

 

 

Das coisas bonitas que se encontram por essa internet fora,

 

Carol

08.Out.18

Praça Paris: Onde o medo e a paranoia se reúnem

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Não havia como não partilhar esta sugestão convosco, quase em jeito de aviso. Um retrato da atualidade, feito de uma forma tão nua e crua que é impossível sair indiferente da sala de cinema. Praça Paris, uma coprodução entre Brasil, Portugal e Argentina, está agora em algumas salas de cinema do nosso país. A história de duas pessoas que vivem duas realidades totalmente diferentes. Tudo ganha um novo rumo quando Camila e Glória se sentam frente a frente e as suas vidas, até então tão distantes, acabam por se misturar numa "quase vida paralela" [é assim que a interpreto]. O medo e a paranoia do medo transformam as pessoas, tornando-as racistas, colocando sentidos perversos em tudo o que as rodeia. Creio que, para quem só conhece o Brasil à distância de um ecrã ou da página de um jornal, Praça Paris ilustra tudo aquilo que vemos e lemos por aí. Violência é a palavra de ordem. E o filme consegue-a não só de uma forma explicita como também através da própria realização. Para lá do que se vê, o espectador consegue sentir-se atingido pela maneira como a história lhe é contada.

 

 

O thriller, de Lucia Murat, tem como protagonistas as atrizes Joana de Verona e Grace Passô. Interpretações exímias. Acompanho o trabalho da Joana por ser uma das artistas [ponham os olhos nela e percebam o que quero dizer com "artista"] que mais gosto da sua geração e foi através dela que cheguei a este filme. Acredito piamente que temos um país repleto de talentos nas mais diversas áreas. Infelizmente, nem sempre sabemos reconhecê-los ou dar-lhes o devido mérito. A Joana de Verona, com 28 anos, tem uma carreira admirável e que, mais do que números, nomeações e prémios, reflete uma vontade imensa de lutar por aquilo em que se acredita, por aquilo que se gosta, por aquilo que [mesmo que pouco reconhecido por outros] é o que nos enche as medidas. Sou suspeita [porque sou fã], ainda assim, isso não invalida o facto de perceber que ninguém vestiria tão bem a pele da Camila. Quem eu não conhecia, mas felizmente passei a conhecer, era Grace Passô. A força da sua personagem está nos mais pequenos detalhes. Que interpretação brilhante. Balançamos durante todo o filme sobre o que está certo ou errado. Questionamo-nos sobre que faríamos nós se estivéssemos no seu lugar até percebermos que, mais do que ficção, a história daquela mulher é a realidade de tantas pessoas. 

 

Lamento que nem sempre tenhamos oportunidade de ver o que é feito por talentos que nos são tão próximos. Desta vez, não é por falta de conhecimento que podem falhar Praça Paris. O filme está em exibição nos Cinema City de Alvalade, Alegro Setúbal e Leiria [todas as informações aqui]. 

 

[Fotografias retiradas do facebook "Praça Paris - Filme"] 

 

Não é um filme que se vê enquanto se trocam mensagens no whatsapp. Não é um filme que se vê para passar tempo. E também não é um filme que se quer rever imediatamente. É diferente. É mais. É uma experiência. E o cinema é tanto quando consegue ser muito mais do que o grande ecrã e uma sala com pessoas.

 

Não posso deixar de agradecer à Cecília Mateus pelo convite para a antestreia. Estas oportunidades proporcionam sempre momentos felizes. Muito obrigada!

Vejam Praça Paris e depois partilhem as vossas opiniões comigo,

 

Carol

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