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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

31.Ago.18

Onde é que ficou a capacidade de acreditar?

Devíamos acreditar mais. Em tudo. Há uma parte da nossa capacidade de acreditar que vai desaparecendo com o tempo, como se os dias fossem ladrões de crenças. Deixamos de querer voar ou ser invisíveis. Deixamos de acreditar no "era uma vez" e nos finais felizes. Acabamos por criar a categoria isso-só-acontece-nos-filmes porque crescemos e achamos que deixa de fazer sentido acreditar nas pessoas que saltam por cima de carros em plena autoestrada. Deve ser por isso que as crianças são felizes com menos. Elas acreditam. E nós, que achamos que sabemos sempre tudo, consideramos que elas se iludem. Não, nós é que nos desiludimos. Tudo seria diferente se acreditássemos, se nos permitíssemos ver a magia das coisas ao invés de procurarmos o seu lado racional. Queremos uma explicação para tudo. Se é assim, eu quero que me expliquem porque é que não acreditamos nos outros ou porque sentimos que não acreditam em nós. De acreditar passamos a duvidar. O nariz não cresce se contarmos uma mentira, os sapos não se transformam em príncipes se beijarem a princesa, não ficamos com os olhos mais bonitos se comermos cenouras. Qual é a piada de viver num mundo assim? Quero mudar-me rapidamente. Questionamos tudo e, se não virmos, se não for palpável, então não acreditamos. O que é que se passa? Acreditar é um desafio muito maior, e mais difícil, do que esse de questionar. Sempre me ensinaram a acreditar num mundo que acreditava nos outros e em mim. Será que mudei de planeta e não acredito? Só quem acredita consegue sonhar. E, não sei quanto a vocês, mas eu sempre sonhei alto. Tocar na lua virá por acréscimo. Não acreditam? 

 

Começo a achar que só não pomos o Pai Natal em causa porque, quando vem, não vem de mãos a abanar. Ao menos isso. Devíamos acreditar mais. Em tudo. 

 

Carol

 

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29.Ago.18

10 dicas: Foto que não é para os likes

Gosto muito de fotografia. Gosto da imortalidade das imagens. Tenho uma câmara, para além da do telemóvel, mas não sou nenhuma expert no assunto. Divirto-me bastante a fotografar por aí, e pouco mais sei, mas é o suficiente. Uma das coisas que mais partilhamos com os outros hoje em dia são fotos nossas. Isso é tema que dá para explorar: o que se faz [ou deixa de se fazer] para conseguir uma "boa chapa" para partilhar nas redes sociais. E é assunto [sério] que deixo [com seriedade] para outra altura. Mas não consigo ignorar o facto de cada vez mais [nos] fotografarmos só para partilharmos com os outros um momento que, muito possivelmente, não vivemos sequer. 

Prezo muito as memórias que uma boa fotografia consegue contar. E não é preciso ser muito profissional para reconhecer as características necessárias para conseguir aquela imagem que mantemos por perto [sem pensar nos likes que daria] só para avivar a memória de como é importante registar momentos [sem que para isso eles tenham de ser partilhados com o mundo]. Deixo até um convite para quem estiver por Lisboa e procure um fotografo que registe a vossa estadia na capital, um evento importante, o vosso rosto bonito e perfeito, ou tantos outros momentos à vossa escolha. A Fixando dá-vos uma bela ajuda: vocês é que escolhem, personalizam o tipo de serviço que pretendem, aqui mesmo, e depois é só sorrir para a fotografia. 

 

Trago-vos 10 dicas sobre como tirar fotografias [uma espécie de tutorial sobre como não ganhar seguidores, nem likes, nem comentários, nem partilhas...]. A vida era assim antigamente. E as pessoas fotografavam[-se] na mesma. E eram felizes na mesma [é o que oiço dizer, eu não estava cá para ver!]. 

 

Foco no que é importante. O que, muitas vezes, é conseguido com uma fotografia desfocada. Uma ataque de riso, por exemplo, não permite uma grande estabilização da câmara, conquanto os corações estejam exatamente no lugar certo nesse momento. É aí que nos devemos focar, no significado desse desfoque bem justificado.

Omitir imperfeições sem inventar perfeições. É melhor assim. Sermos objetivos para a objetiva. Deixá-la captar o que somos, o que sentimos no momento do click. Um sorriso amarelo é sempre melhor que uma desmedida correção de cor num programa de edição de imagem. 

Tirar o verdadeiro proveito do momento. Esqueçam cá essa coisa de tirar fotografias assim ou assado com o único intuito de, mais tarde, as publicarem. Na verdade, ninguém quer assim tanto saber o que comeram ao almoço que justifique deixar arrefecer a refeição só para arranjar o melhor enquadramento. Primeiro, enquadrem-se na vida que teriam como se não a vivessem para ficar bem na foto.

Olhem na direção daquilo que vos faz sentir bem. Concentrem-se no que realmente [vos] interessa. Não estou a falar de likes ou seguidores. Se gostam de números, dediquem-se à matemática. A fotografia só olha a estatísticas de sorrisos genuínos e momentos reais. Se é para partilhar, que seja em medidas justas e tendo em conta uma divisão que some memórias a quem as construiu. 

Garantam a naturalidade. É considerada batota aquela foto perfeita na piscina em cima do flamingo [em que parece que até a água decidiu colaborar] sem que se faça acompanhar pela foto do momento em caíste 10 vezes antes de conseguir subir para cima daquele animal [aparentemente] inofensivo. Os melhores disparos são aqueles em que, tanto a lente como tu, têm a abertura certa para estar sem fazer pose. 

Repartam os louros com quem está do outro lado. O fotografo que arranjaste, uma vez escolhido e responsável pelo disparo, também faz parte da história, ainda que não faça parte da imagem. Podem nunca se ter apercebido disso, mas a fotografia que veem é o resultado da perspectiva de quem está do outro lado. Há um autor, uma perspetiva e um significado [que pode ficar para sempre oculto, se não te atreveres a perguntar qual é]. 

Angulo perfeito. Não há o ângulo perfeito. Talvez haja um que nos costuma favorecer, contudo não creio que seja esse o ângulo que a vida costuma usar. Quer-me parecer que o "ângulo desprevenido" resulta melhor, dando aquele toque de realidade à fotografia. Na arte de fotografar, a régua e o transferidor não são instrumentos certos para captar momentos a 360º. 

Ficar bem na fotografia. Nunca uma expressão foi tão mal inventada. Todos sabemos que não existe esta coisa de ficar bem. Quanto muito, temos uma foto em que gostamos de nos ver e que passa, por isso, a ser a nossa foto de perfil em todas as redes sociais durante 12 meses consecutivos. Até gostamos mais de ver uma pedra da calçada numa fotografia do que gostamos de nos ver a nós. Defeito de fabrico? Sim [definitivamente!]. Assim sendo, como não encontro o talão de troca, há que saber aceitar e viver com esse fardo. Fica de bem com a vida, mesmo que não fiques bem na fotografia. 

Ir aos lugares que queremos ir, sejam ou não bons cenários para fotos. A luz e a cor são aspetos importantes na medida em que nos devem permitir ilustrar fundos reais, do dia-a-dia. E há muito cenário por aí que ainda não foi descoberto porque a luz do dia é flash suficiente para iluminar os olhos independentes das redes, livres de espírito e do "viral".

Aproveitar o palpável antes que se torne num papel impresso ou num ficheiro perdido num computador. Há poder numa fotografia. Porque, mesmo que seja um retrato de um momento banal, um dia será muito mais do que isso. Esse é o poder da imagem: é sempre muito mais daquilo que mostra, conta sempre muito mais daquilo que é. A fotografia faz-se de pedaços de vida, mas a vida não se faz de pedaços de fotografias que partilhamos nas redes sociais. 

 

 

Lanço-vos um desafio: deixem nos comentários uma dica [pelo menos] sobre como tirar-uma-foto-que-não-é-para-os-likes. E vou até nomear alguns "vizinhos" para responderem ao meu desafio e para, se quiserem, o colocarem a outras pessoas. É importante irmos refletindo sobre temas como este. Carlota, Célia, Maria João, Hipster Chique, Chic'Ana, C.S., Joana Marques e Fátima Bento, quero muito saber quais são as vossas dicas.

 

Uma fotografia é algo que fica para sempre, ou, pelo menos, durante o tempo que a decidirmos guardar. É a arte de eternizar momentos. E, mais do que querermos partilhá-los com os outros, é conseguirmos ver de fora a situação em que estivemos por dentro. 

 

Carol

 

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27.Ago.18

Relato dos últimos dias de agosto

A cinco dias de setembro, são muitos os que fazem aquela contagem decrescente dolorosa qb. Sei que, ainda assim, há muitas pessoas de férias num mês que não seja o mês de agosto, mas é para a maioria que me dirijo. Podem não querer admitir algum nervosismo, no entanto eu consigo senti-lo daqui. Admitam, os últimos dias de agosto são um tanto ou quanto perturbadores, até para quem não começa a trabalhar logo no início de setembro. Para mim, esta contagem decrescente pode muito bem assemelhar-se a um relato de futebol. Reparem só:

 

- Pontapé de saída para o dia 27. João a tocar para Margarida, que atende a chamada, apesar de estar de férias com a família no Algarve, e diz "sim sim, é melhor combinarmos alguma coisa esta semana porque a faculdade não tarda está a começar e depois não há tempo para mais nada". Margarida faz um passe curto para os amigos que já regressaram das férias com os pais e que decidem que esta é a última oportunidade de aproveitarem o verão ao máximo antes do mês acabar. Afonso recebe a bola e fica nervoso só de ver que o calendário muda a folha dentro de poucos dias. Entrega para Filipa, que publica no instagram as fotos que restam do verão com a legenda "vai deixar saudades #summer18". Pontapé de saída para os Flamingos e Bóias-Donuts-Com-Pepitas-Coloridas.

- Dia 28. Entrada duríssima de Nostalgia sobre Cérebro-Desligado-Modo-Férias. O árbitro levanta os dois braços e grita "segue!". Cérebro-Desligado-Modo-Férias fica a contorcer-se no relvado. Miguel recebe a bola, com saudades do verão que ainda não acabou. A bola sai, perdida. Nostalgia grita "Vais sentir falta vais! As manhãs na praia, as tardes na piscina e as noites na discoteca. Está a acabar. Não se vai repetir. Podias ter aproveitado mais!". 

- Dia 29, a pressão acentua-se. Passe curto entre Vasco e a mãe, que tenta convencer o filho a ser mais dedicado no ano letivo que se aproxima. Joana está adiantada, esperou o verão todo por mostrar o bronze que conseguiu nos 6 destinos paradisíacos onde esteve com a família. Tenta o chapéu, aquele que comprou de propósito para tirar uma foto sentada na Bóia-Unicórnio, e... bola por cima. Pontapé de baliza para a Vida Real, tão distante quanto possível. Vida Boa vai bater... O que acabou de acontecer? Vida Boa é atingida por um objeto vindo das bancadas: uma rotina, com horários a cumprir.

- Estamos de regresso para a 2ª parte, dia 30. Pontapé de saída para o grupo de amigos que conseguiu organizar uma última ida à praia antes do final do verão. Eles entregam para o grupo que não conseguiu combinar um simples café porque, mesmo de férias, cortavam-se todos à última da hora. Colocam a bola no chão e entregam para Trânsito no Sentido Lisboa-Almada [mais especificamente Costa de Caparica], que vai coxeando naquele que será o último para-arranca [neste sentido] desta temporada. É a loucura nas praias. 

- Estamos já em tempo de descontos, dia 31. O casal-de-amigos-sem-filhos desmarca-se e prepara-se para ir de férias na tranquilidade do próximo mês. O Stress domina e tem um corredor livre à sua frente. As Bagagens desfazem-se em lágrimas, as Pulseiras dos Festivais aguentam-se como podem e a Normalidade apressa-se a regressar como se nunca tivesse ido embora. Fora de jogo para Agosto. Não vale a pena reclamar com o árbitro. O público faz de tudo para mostrar o desagrado: desde throwbacks no instagram a montagens duvidosas enviadas para grupos do whatsapp. E reparamos em tudo o que vamos fazer pela última vez este verão: última saída à noite, último mergulho, último mergulho de nariz tapado, último croquete na areia, último gelado, última noite na esplanada, última partida de cartas com o pessoal, último raio de sol, última inspiração com cheiro a mar, última vez de chinelos na rua. "Este verão é que foi!", ouve-se nas bancadas. E o próximo há-de ser também. É preciso é ter calma e saber ouvir o apito final.

 

Setembro está aí, malta. E, apesar do cabeça de cartaz que é agosto, setembro também é artista. E o verão ainda não acabou. Talvez se tenham acabado outras coisas, mas faz parte, ou não? E, se querem que vos diga, não tarda é natal! 

 

Carol

 

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22.Ago.18

Onde não cabe o cantar do galo

As terras pequenas não cabem nas cidades grandes. Os centros concentram pessoas, mas não as centram no sossego dos dias e noites. Não há espaço para os sons e aromas. Até na escuridão seria demasiada a claridade para ver o que há para ver aqui. Nas terras pequenas cantam os galos, as galinhas e os grilos. Veem-se as estrelas e distinguem-se as constelações. As andorinhas alinham-se nos cabos da eletricidade, embora a rede móvel seja detalhe de cidade grande e, talvez por isso, não teime muito em existir por aqui. As rotinas são desempenhadas a tempo, ainda que com tempo e sem pressa. Assim toca o sino da igreja, embalando horas em badaladas certas. Os termómetros marcam outras temperaturas, são de extremos e desafiam estações do ano. As tradições não se perdem no alinhamento, conquanto muitas delas já não sejam o que eram. Há quem nunca daqui saia, há quem venha só de passagem. Porque é de passagem que se vive nas cidades grandes, mesmo que não sejam grandes cidades. Vão sendo poucos aqueles que habitam estas localidades perdidas nos mapas. Quem o faz, já o faz há muito tempo. Tempo suficiente para saber que cores como as que se pintam por aqui, não são a mesma coisa no ecrã de um telemóvel. A vida aqui é planeada, tem um ritmo moroso. As cidades grandes não saberiam acolher estas terras pequenas. E há sentido no que toca à distribuição geográfica conseguir evitar matrioskas. Perder-se-ia o melhor dos dois mundos.

 

Apesar do desenho no mapa, estas localidades, a que chamo “terras pequenas”, têm tudo menos uma dimensão minúscula.

 

Carol

 

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17.Ago.18

Às páginas tantas [#7]

A lista de livros que tinha para ler este verão quase que dá para ser usada no próximo natal. Ainda bem que não olho a páginas, porque estou longe de conseguir pôr toda a leitura em dia. No que toca a boas histórias, essas, felizmente, não me têm faltado. Já chego um bocado atrasada ao livro Um Mais Um de Jojo Moyes, é possível que muitos já o tenham lido. Não obstante isso, este livro foi uma pérola que apareceu no meu caminho, colocada [e bem!] pela minha melhor amiga. E quando os amigos partilham connosco pérolas assim, dizer que são os melhores é muito pouco depois daquilo que fizeram por nós. Muito obrigada, Márcia!

 

A escrita coincide com a narrativa: descontraída, sem rodeios, surpreendente e divertida [muito divertida!]. Um Mais Um conta a história hilariante de quatro personagens, narrada pelas próprias nos momentos certos. Não adoramos tudo à partida, até percebermos que há uma verdade naquelas palavras e que, apesar de ser ficção, há realidade naquilo que se conta. Há quatro ingredientes que são o segredo para que esta receita seja um sucesso: Jess, Ed, Tanzie e Nicky. Na dose certa, misturados com o drama, o humor e o amor. Uma empregada de limpeza, mãe solteira, que faz contas à vida, enquanto a filha é um génio da matemática e o enteado é alguém que ainda não encontrou o seu lugar no mundo. Um patrão rico e que age sem medir as consequências das suas ações. Uma viagem que mudará para sempre a vida de todos. E a vida de todos, que nos faz perceber que o mundo tem espaço para tanto e tão pouco. Jojo Moyes confronta-nos, sem medos, com questões básicas, pode até fazer-nos sentir mal, mas há uma atitude positiva, uma vontade de que tudo fique bem, que nos faz refletir sobre as oportunidades que merecemos e as que devemos saber dar aos outros. Este é um daqueles livros repletos de mensagens escondidas, que apetece guardar no bolso para ler mais tarde. Tem a organização de uns dias e o total descontrolo de outros. Porque a vida é mesmo assim e a ficção também consegue não ser perfeita, sendo perfeitamente bem humorada. Acho que me apeguei de tal modo às personagens que, depois de terminar a leitura, senti que me faltava a companhia daquelas quatro pessoas que estiveram comigo durante todas aquelas páginas. Esse vazio é bom sinal, certo?

 

Adorei a escrita de Jojo Moyes pelo que já acrescentei outras obras às que pretendo ler [depois dou notícias quanto a isso]. Nunca antes tinha lido um livro da sua autoria, só conhecia a adaptação ao cinema de “Viver Depois de Ti”. E vocês, já leram Um Mais Um? Conhecem outros livros da autora? Que histórias têm andado convosco debaixo do braço?

 

Às páginas tantas, estas páginas passaram diretamente para as minhas preferidas [sem margem para dúvidas!].

 

Carol

 

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[para verem as minhas sugestões de leitura anteriores basta clicarem aqui!]

14.Ago.18

Significados de Algarve em agosto

Português que é português sabe que tem duas opções no verão: ou corre de férias para o Algarve ou foge das férias no Algarve. E, ainda que haja fugitivos, em agosto o sul do país transforma-se. Se Portugal se equilibrasse consoante a distribuição da população ao longo do país, haveria certamente um desequilibro e acabaríamos todos com os pezinhos nas praias algarvias, o que, vendo bem, já acontece. Aconteceu-me. É por isso que aqui estou.

Segundo a wikipédia [essa fonte de sabedoria], "o Algarve é uma região, sub-região e província tradicional de Portugal continental, sendo a mais meridional entre todas" e "constitui a região turística mais importante de Portugal e uma das mais importantes da Europa". Estas palavras podem não andar muito longe da verdade, mas, vão-me desculpar os que se sentirem ofendidos, em agosto o Algarve tem outros significados intrínsecos.

Ora vejam só: O Algarve é uma região que, em pleno mês de agosto, é propícia a receber uma quantidade considerável da população portuguesa, e não só, que se mostra disposta a...

 

Apanhar escaldõezitos a torto e a direito porque o sol é quase tão forte ao final da tarde como ao meio dia. E esperem só por ver o corpinho vermelho de um inglês [que torra entre as 11h30 e as 15h] e até se assustam. Não há protetor solar que exerça bem a sua função nestas condições. Até o dedo mindinho do pé [esse dedo quase inexistente] é capaz de ficar queimadito. Que importância tem isso, férias são férias, não é?

Lidar com o facto de passar a pertencer a outras famílias e grupos de amigos devido à proximidade que é proporcionada nas praias. É uma questão social. Cabe-nos saber conviver com isso, sorrir e fingir que a duna que mandaram para cima da nossa toalha não nos incomodou nem um bocadinho. No entretanto, a probabilidade de haver um bebé a chorar e uma família com o nível de stress no máximo é elevada. Somos obrigados a ir à água [que está a temperaturas para lá das recomendadas para qualquer ser à face da terra] só para não nos sentirmos tão constrangidos. Mas que mal tem, não é? Estamos só a aproveitar as férias.

Gastar todas as poupanças que juntamos durante o resto do ano. E com isto não falo só em números, mas também em energia. As férias não são só descanso. Elas fazem-nos perceber como estamos cansados [super exaustos mesmo!]. Dá uma moleza depois da praia. Dá uma preguiça depois [e antes] de não se fazer pevide. E até os trocos acabam por ser gastos em coisas que mais tarde não nos lembramos. Que importa isso? Regressamos a casa. Falidos. Porém, felizes. Não é isso que mais importa nas férias?

Acolher outras nacionalidades [e tudo o que isso engloba]. Descobrimos mais tarde que certos locais do Algarve já são mais de Inglaterra do que de Portugal. Temos de arranhar o inglês para comunicarmos [porque, obviamente, é a língua que falamos] e, quando percebem que falas português, é impossível não reparar o espanto com que ficam por encontrar um português em Portugal. Engraçado, não é? Nas férias há que ver o lado positivo das coisas: por metade do preço, vamos à terra de Sua Majestade sem sairmos do nosso próprio país.

Reecontrar todas as pessoas das quais fugimos. Porque somos seres racionais e fugimos todos para os mesmos lugares. E depois é aquele momento meio constrangedor meio divertido porque, apesar de nos encontramos todos os dias naquela que é a nossa "vida normal", estamos a encontrar-nos no nosso melhor "modo descanso", acabando por revelar a personagem desportiva que criámos apenas para a ocasião "férias". O mundo não cai por isso, pois não? Mesmo sabendo que eu nunca mais vá conseguir apagar a imagem mais desleixada daquela pessoa profissional, arranjadinha e bem penteada com que me cruzo todos os dias. As férias dão direito a isso, certo?

Vérias. Vérias com v, sim. Porque o nosso cérebro entra de tal maneira em modo repouso que metade da nossa inteligência também decide tirar uns dias. E, admitam, há sempre aquele receio meio escondido de regressarmos ao "dever" e, depois de uns tempos fora, nos termos esquecido de coisas básicas, como por exemplo a palavra-passe da nossa conta profissional ou, na pior das situações, a nossa idade/nome/morada/código-postal. Basicamente, é possível esquecermo-nos de quem somos. Vérias são vérias, pois é? [Como nos esquecemos da idade passamos a ser uma criança que acaba as frases com as palavras "pois é"]. 

Enlouquecer por tudo e por nada. Há uma certa loucura que só às férias pertence e que se justifica, muitas das vezes, com os motivos enumerados acima. Faz parte, não é assim? Passam depressa, mais vale aproveitar enquanto duram. Pode ficar alguma coisa esquecida que nos fará voltar para trás, podemos ter de andar durante muito tempo, podemos não encontrar um lugar para o carro, podemos ter de esperar em filas, podemos apanhar escaldões em sítios do corpo que não conhecíamos, podemos ter a toalha sempre cheia de areia. Ou podemos simplesmente passar por tudo isto e sorrir. Fazer aquele sorriso forçado. Ninguém disse que estar de férias era fácil, pois não? Aguentem. Nem o descanso seria só descanso se não nos sentíssemos cansados.

 

Haverá, certamente, mais a acrescentar. Uma coisa tenho de deixar bem clara: o Algarve é um lugar maravilhoso e, precisamente por isso, há esta corrida a sul no mês de agosto. Este ano já contribui. Regresso num mês mais calmo. Boas férias para quem estiver a gozá-las. Bom trabalho para quem está a ser gozado [e este trocadilho maroto, han?]. 

 

Thanks, Algarve. Agora só em inglês, é o mínimo que posso fazer. With love,

 

Carol

 

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