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it's carol

Um blog sobre tudo. Sobre o que me apetecer. Acima de tudo, sobre o que sou.

30.Mar.18

Com ou sem pipocas? [#3]

Não vi quase filme nenhum nomeado para os Óscares de 2018 antes da cerimónia. Apesar da academia nomear e premiar os "melhores", isso não significa que para mim esses sejam os "melhores" filmes do ano. Nada disso. Às vezes, há prémios que são injustos. A meu ver. É sempre impossível agradar a todos, não é? Mas, estatuetas à parte, entretanto já vi alguns dos nomeados, aqueles que me despertavam realmente a atenção. Pertenciam, claro à lista de Filmes-Para-Ver-Quando-Tiver-Tempo-A-Sério. Não me deixaram nada mal, por isso estou aqui mortinha por partilhá-los convosco!

 

[ Se estiverem interessados, podem clicar em cima dos cartazes e, assim, assistir aos trailers dos respetivos filmes ]

 

Eu, Tonya

Que filmaço! Tinha as expectativas baixas, preparei-me para duas horas em que desperdiçaria tempo e não podia estar mais errada. Bom do início ao fim. O humor negro, o timing de tudo, as personagens e a montagem. Margot Robbie não podia brilhar mais neste papel.

Eu, Carol, não podia ter gostado mais!

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The Greatest Showman

Um dos meus preferidos. Vi duas vezes. Um musical como não via há muito. Uma história que se baseia na diferença, mas que não se centra apenas nela. Retirei outra mensagem que não apenas a aceitação do incomum: podemos não ter nada, mas nunca seremos felizes quando quisermos sempre mais do que aquilo que podemos ter. As músicas surgem quando assim faz sentido e a banda sonora é para lá de boa [e está toda aqui]. The Greatest Showman entrou diretamente para os meus preferidos.

Se a vida fosse um musical era tão mais divertida!

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Guia para um Final Feliz

Quando um filme conta com Bradley Cooper, Jennifer Lawrence e Robert de Niro no elenco o que é que há para correr mal? Se virem o filme depois conversamos sobre isso. É de 2012 e valeu à protagonista o Óscar de Melhor Atriz. Se fosse eu mandar, as estatuetas tinham-se distribuído por todo o elenco. Tem comédia e os dramas da vida. Ambos na dose certa para percebermos que há sempre espaço para a loucura e, ainda assim, a possibilidade de finais felizes.

É um bom guia para nos mostrar como estamos sempre a tempo de começar de novo. 

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Três Cartazes à Beira da Estrada

Queria muito ver este. Era o maior candidato à vitória. Até eu, que não o tinha visto a tempo, acreditava que seria o grande vencedor. Inevitavelmente, vence. A história, o elenco e a brilhante Frances McDormand. Não é, de todo, o género cinematográfico que mais aprecio, contudo é daqueles filmes que prende até aqueles que se fazem de esquisitos. 

E é diferente, muito diferente...

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E vocês, já viram algum destes filmes? A qual, ou a quem, acham que ficou a faltar a famosa estatueta na prateleira lá de casa? 

 

Carol

28.Mar.18

Os parapeitos e as almas lavadas

Abriu a janela depois de amarrotar a cortina ao dividi-la ao meio e empurrar o tecido para os dois lados. Havia momentos bons naquelas manhãs. O som do despertador relembrava-o do quão importante era saber começar o dia. Uma arte pouco praticada. Uma qualidade, quando bem aproveitada, e o maior defeito, quando há despertadores mandados à parede. Conseguira desviar o lençol, pousar os pés no chão frio e rugoso. Tinha de comprar um tapete. Ou talvez fosse boa ideia deixar de dormir descalço. Mas os pés adaptavam-se à temperatura. Até ele. Ali, no parapeito da janela a sentir o ar fresco de mais uma manhã. Aquela brisa lava-lhe a cara e obrigava-o a abrir os olhos. Não fosse a curta distância da cama de solteiro que comprara em segunda mão permitir que ele conhecesse aquele percurso de olhos fechados. As mãos secas e grandes encostaram-se às maçãs do rosto geladas e esfregaram-nas rapidamente até ele conseguir ver o final da rua dobrar para outra que conseguia imaginar, mas não conseguia ver. E estava acordado. 

Apoiou as mãos na pedra suja do parapeito, mas não se importou. Aquele seria o momento em que lavava a alma, depois teria tempo de lavar o corpo. Ainda bem que as manhãs podiam ser mágicas para alguns. Ainda bem que as ruas tinham um brilho especial logo depois do sol nascer. Tudo era silêncio visto daquele 3º andar. As fitas da porta do café da frente já se agitavam com a entrada dos primeiros clientes. A pequena mercearia já ostentava cestas com a fruta colorida e vistosa da época. Dois senhores carecas e um pouco curvados debruçavam-se sobre as páginas de um jornal desportivo. O jovem casal do rés-do-chão que lhe oferecera uma tarte de maçã na noite passada já passeava de mão dada até à entrada da padaria. Uma senhora que calçava uns sapatos que inevitavelmente aumentavam a sua altura acelerava o passo a custo, calçada fora atrás de dois pequenos seres que riam à gargalhada. Ouviu miar e distraiu-se. Ainda não tinha gatos. Precisava primeiro de garantir que conseguia ganhar o suficiente para se alimentar a si. Voltou a fazer-se silêncio. Ele debruçou-se para fora da janela e na varanda do andar de baixo um gato cinzento e branco esfregava-se nos azulejos do chão. Mostrava-se satisfeito, lançando-lhe um olhar provocador e depois, ignorando-o por completo, deitou-se enquanto observava a rua. Ele riu-se. Tinham as mesmas rotinas. Ele e um gato. Gostavam de manhãs. Daquelas manhãs a observar as vidas que amanheciam antes das deles ou que davam o mote para as deles começarem. O gato da vizinha devia estar habituado àquilo. Quem não se habituaria? Ele chegara na tarde anterior e já estava mais do que habituado.

Não tinha dormido mal numa miserável cama em segunda mão, mas quantas pessoas dormiam em camas que davam para acolher multidões e acordavam sem conseguir ver metade das histórias que ele via dali? Se o trabalho corresse bem, se ganhasse para se alimentar e pagar o aluguer do quarto, talvez arranjasse um gato. O barulho da janela do 4º andar distraiu-o. Debruçou-se e olhou para cima. Viu duas mãos pequenas com as unhas num vermelho cereja e alguém espreitou. Esvoaçaram cabelos compridos, observavam-no dois olhos curiosos e uma mão suja do parapeito acenou-lhe. Ele esboçou um leve sorriso e voltou a endireitar-se para olhar em frente. No mesmo gesto orgulhoso e imponente, mas honesto e amigável com que o gato da varanda lhe dera os bons dias. As manhãs eram sempre mais do que sono e má disposição. E havia manhãs pelas quais valia a pena sujar as mãos. 

 

Ele olhou para as suas. Talvez devesse lavar o parapeito antes de lavar a alma. 

 

Carol

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12.Mar.18

A tempestade Félix sabe ficar bem na fotografia

Estes últimos dias têm inundado o meu telemóvel com fotografias de vidros molhados. Tudo culpa da tempestade Félix e da minha obsessão por gotas de água em janelas com vista para rua. Acho que é uma imagem bonita, dá-nos o detalhe da água que restou, que não se transformou em poça nem nos vai atrapalhar o caminho. É o pormenor que fica depois destes dias bipolares que estão sempre à espera que passemos para o outro lado do vidro, para o lado em que somos o vidro. Mas a chuva não faz o mesmo efeito em nós. Têm sido dias de interior, que o vendaval está forte para andar assim na rua. É por isso que não resisto a aproximar-me de uma janela, nem que seja a do carro enquanto espero que pare de chover. Tenho tirado fotografias a valer e a melhor parte é quando o foco desfoca o fundo e as gotas de água conseguem todas as atenções para si. Acho que nunca ninguém repara nisso. Depois da tempestade, não vem só a bonança. Ultimamente, essa nem tem aparecido. Mas, uma coisa é certa, depois da tempestade, os vidros ficam sempre com uma imagem que aprecio particularmente. E olhem que esta tempestade sabe ficar bem na fotografia!

 

Se me encontrarem por aí, perto de uma janela, ando a registar parte daquilo que o Félix trouxe. Mas okay, venha de lá a primavera que as flores, e suas cores, são o meu próximo foco!

 

Carol

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07.Mar.18

A minha viagem é uma pessoa. E ressona.

Fui de viagem. Regressei há mais de uma semana e nesse espaço de tempo tenho tentado organizar aquilo que pus em stand-by durante 5 dias. Será a primeira vez que escrevo no blog sobre uma viagem que fiz. Pelo menos, é a primeira vez que escrevo sobre viajar no sentido literal da palavra [quantas vezes é que não ando por aqui a viajar na maionese?]. Com todo o respeito pela profissão, não sou guia turística e estou longe de me tornar num mapa mundo. Por isso não esperem um itinerário ou algo do género. Partilharei as coordenadas de dias felizes, acho que isso é o suficiente para nos orientarmos. Estive com quatro amigos em Praga, na República Checa. Foi a primeira vez que viajámos sozinhos, sem pais nem professores nem nenhuma autoridade superior que se aproveita do mundo e organiza mapas para os dias. Como se ficarmos perdidos não fosse a coisa mais natural ou como se o mundo fosse tão organizado assim. Levávamos essa liberdade nova e o entusiasmo de poder pô-la em prática. E, sejamos sinceros, não íamos para o outro lado do mundo. Tudo o que precisávamos ia connosco. Tudo e mais um bocadinho... as bagagens tinham excesso de peso. Nós tínhamos excesso de vontade de fugir.

 

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Viajar é bom que se farta! Viajar com as pessoas que fazem parte da nossa maior viagem, aquela que fazemos diariamente e sem mapas, é melhor que bom! E não é que a vida dá voltas até nas voltas que nós lhe queremos dar? Talvez por cansaço, talvez por delírio, reparei que, no regresso a Portugal, viajávamos com um senhor que bem podia ser a personificação desta viagem. Sim, se esta viagem fosse uma pessoa, seria, sem dúvida, aquele senhor. E é por ele, e por o termos encontrado no regresso, que faz sentido começar a história a partir do fim. O avião tinha lugares livres suficientes para termos a sorte de calhar exatamente na fila que antecedia a fila de alguém que vinha para Portugal com muita vontade de dormir. E também com muita vontade de ressonar, como se aquela fosse a última vez que ressonaria na vida. A descontração com que estava sentado no banco, recostado para trás, de olhos fechados e com a boca escancarada [sabem quando vão ao dentista?], era exatamente a mesma descontração com que partimos para Praga. Possivelmente, havia em nós descontração a mais e calor a menos. Vestimos várias camisolas, camisolinhas e casacos, calçámos vários pares de meias, meinhas e luvas. E íamos bem armados com cachecóis, gorros e capuzes. Estaríamos prontos para o pior dia de inverno em qualquer lugar do mundo. Pensávamos nós. Afinal, se é assim o inverno na República Checa, espero que nunca tomemos contacto com o pior dia da estação. Regressando ao avião e ao ressonar do senhor que nos acompanhou, recordo aquele som como o som do desinteresse, do despreconceito, da inconsciência de que não estamos sozinhos no mundo. Essa é uma das melhores partes de viajar. Deixar para trás o preconceito e desfrutar do facto de sermos desconhecidos noutro país que nem sequer fala a mesma língua que a nossa. Não importa como estás vestido, não importa se acertas na gramática de várias línguas que acabas por juntar nem que seja para te desenrascares no momento, não importa se te apetece rir alto no meio da multidão ou se tens de correr no meio da rua para apanhar o metro. Supostamente, ninguém te conhece, ninguém te está a observar. Importa, claro, em qualquer parte do Mundo saber manter o respeito. Isso é universal. Isso e o ressonar em alto e bom som em público. Desculpem, é um trauma que ficou. E, ao recordá-lo, não consigo não sorrir porque, provavelmente, Praga ouviu-nos rir no mesmo volume e viu-nos dormir com a boca tão ou mais aberta.

 

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Estávamos cansados. A toda a hora. Tínhamos frio. A todos os minutos. Tivemo-nos uns aos outros. A todos os segundos. Por isso perdemos a noção do tempo e ignorámos os horários. A meio da viagem, depois do primeiro impacto, acordámos para a vida. Serviram a refeição leve no avião e percebemos que não há uma boa comida italiana que não funcione fora de Portugal e, por acaso, fora de Itália. E, fora de brincadeiras, a comida checa não nos deixou ficar mal. O senhor voltou a esticar as pernas e nós preparámo-nos para o regresso da música de fundo. Mas ele não estava para aí virado e puxou de um livro que deve ter ido buscar aos sonhos da primeira hora de voo, abriu-o e passou a hora seguinte nas mesmas duas páginas. Nada diferente do que nos aconteceu a nós, à exceção de que estivemos sempre de cabeça erguida e olhos bem abertos. Fizemos história naqueles dias, escrevemos memórias, pontuámos a jovialidade que nos caracteriza e conhecemos personagens num universo que, paginado, organizaria eximiamente a narrativa num livro daqueles que gostamos de manter por perto. Tentámos encontrar um bom ritmo para a leitura. Um ritmo que nos permitisse usufruir do enredo, visualizar as imagens e viver todas as emoções das palavras, dos gestos e dos parágrafos, quando o descanso assim o permitia. Demorámo-nos no que pudemos e, ainda que na pressa de não desperdiçar pitada, conseguimos recapitular o essencial: as pessoas fazem as viagens, as viagens fazem as pessoas e as duas juntas reúnem as características necessárias para um Best Seller.

 

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E, de um momento para o outro, o livro fechou-se e estávamos de volta ao nosso território. Perdemos o senhor. Para bem de todos os futuros passageiros de aviões, espero que nunca o cheguem a encontrar. Ainda que ele fosse uma personificação desta ida que fiz a Praga, está muito longe de ser um bom companheiro de viagem. Fica muito por contar. Estou com vontade disso, mas hoje não acrescento mais nada. O primeiro post que escrevo sobre uma viagem não tem uma única referência a um momento turístico. Porque antes desse detalhe, está o que me deixou mais feliz: viajar com quatro pessoas que adoro e desfrutar de detalhes que não são vendidos em agências de viagens. 

 

Entretanto, já pus o sono em dia. Espero não ter ressonado tão alto. Mas de uma coisa podem ter a certeza, se aquele senhor for mesmo a personificação desta viagem, a felicidade fala-se em sonhos, de boca aberta e bem alto para que todos percebam que os mapas felizes se fazem na loucura de seguir os caminhos desconhecidos de olhos fechados, guiados pelas pessoas que conhecemos melhor. 

 

Carol

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