Adormecer por aí
Não adormeço assim. Não caio no sono profundo de quem não dorme há horas. Não prego olho só porque sim. Não durmo se a escuridão da noite vier, se o despertador estiver pronto a tocar cedo na manhã seguinte, se estiver confortável no sofá. Tudo em mim pode ser sono. Os olhos podem estar pesados, o corpo pode estar dorido e cansado. Já foi o banco de trás do carro, à noite, uma boa cama para quem brincava muito e dormia pouco. Agora não adormeço assim. Não deixo a meio as conversas, os filmes ou os livros. Não desligo em qualquer lugar e a qualquer momento. Nem me convence o João Pestana, que devia ser João Pálpebra já que, quando aparece, puxa o apelido para baixo com toda a força que tem. Quando o cansaço vence, deixo-o celebrar a vitória com todas as horas de sono a que tem direito. Talvez um dia adormeça no sofá, perca o final de um filme ou deixe a página de um livro a meio. Talvez um dia me faça falta dormir nesses lugares confortáveis que agora me descansam, mas que não me deixam descansar o suficiente. Talvez um dia também venha a passar pelas brasas. Por enquanto, não adormeço assim. A noite traz-me o sono e eu trago-me até à cama. O único lugar onde os olhos se dão por vencidos, mas onde também eles vencem. E durmo bem. Porque durmo a sério.
Não adormeço assim. Mas também sei descansar os olhos,
Carol